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segunda-feira, 25 de abril de 2022

Respostas em defesa de três pessoas

 

Manifestar publica discordância com a posição do PCP relativamente à invasão da Ucrânia ou analisar a guerra numa óptica não absolutamente coincidente com a do governo e do exército ucranianos tem dado azo a desagradáveis ataques pessoais. Nas últimas horas, publiquei no Facebook, mas em páginas alheias (a dos amigos Maria Isabel Santos Isidoro e João Paulo Oliveira), dois escritos motivados por ataques, de que tive conhecimento por várias vias, dirigidos a Ricardo Araújo Pereira, José Pacheco Pereira e ao major-general Carlos Branco (que tem comentado a situação na Ucrânia na CNN-Portugal e em outros órgãos de comunicação). Transponho agora aqui para o blog e também para a minha página do Facebook esses meus dois escritos, em que assumo, por diferentes razões, a defesa dos visados. Para uma melhor contextualização será necessário visitar as páginas antes indicadas.

 

Texto 1

José…, não creio que a Isabel concorde com os teus exemplos... O Ricardo Araújo Pereira é cidadão que há muito vota no PCP; mas nenhum cidadão eleitor está obrigado a concordar com todas as posições políticas assumidas pelo partido em que votou. Apoiar um partido não deve ser um acto de fé, um gesto ditado pela crença. Hoje mesmo, dia 25 de Abril, o PCP interveio na AR colocando a tónica no "combate ao pensamento único", pelo que deverá aceitar que quem, como o Ricardo, nele votou, possa pensar de forma diferente e criticar o PCP relativamente a uma questão actual concreta: a posição face à invasão da Ucrânia e à guerra em curso nesse território. O PCP é o único partido português genuinamente enraizado na terra dos humilhados e ofendidos, para utilizar expressão do meu caro Dostoievski. É no espaço político institucional do PCP (com destaque para os sindicatos) que o mundo do trabalho, que os humilhados e ofendidos deste nosso Portugal se vêem mais autenticamente representados. Tenho motivos para acreditar que o Ricardo Araújo Pereira (que me choca ver ser por ti chamado de "palhaço rico") subscreve esta minha velha opinião. Eu, ele e muitos outros na área da "esquerda radical" (como agora se diz, com má intenção mas involuntário rigor) consideramos que a posição do PCP face à agressão bélica da Rússia à Ucrânia é eticamente reprovável, politicamente incorrecta e até completamente disparatada (excepção à regra a que o partido nos habituou). Esta crítica racional em nada invalida a minha anterior declaração sobre o histórico papel de representação de um sector da sociedade portuguesa. Quanto ao José Pacheco Pereira, limito-me a recordar que é um muito sério e competente historiador que tem desenvolvido vasto trabalho de investigação historiográfica sobre o PCP e sobre a biografia política de Álvaro Cunhal, para além da nobre defesa da Memória através do notável arquivo "Ephemera". Temos tema para muitas conversas não virtuais. Esta transposição hodierna do diálogo interpessoal para a esfera virtual, quase anulando a vivência real, é um dos problemas sérios do mundo contemporâneo. Mais um a convocar o nosso filosofar. […]

 

 

Texto 2

João…, conheço pessoalmente o major-general Carlos Branco. É um homem sério, cidadão praticante, com experiência directa desse tremendo fenómeno que é a guerra e conhecedor do peso da desinformação em contexto bélico; tem sido, por isso, exemplo de esforço de elaboração de análises racionais, tão objectivas quanto possível neste momento em que a guerra ainda rola, e introduzindo o exercício dubitativo – atitude que particularmente estimo, dado ser eu um profissional da dúvida. Tem tido a humildade de reconhecer erros ou imperfeições nos seus comentários públicos – outra atitude do meu especial agrado (também por imposição de ofício). Lamento os ataques de que tem sido vítima.

João Maria de Freitas Branco

 

quarta-feira, 20 de abril de 2022

Madalena Sá e Costa

 

MADALENA SÁ E COSTA (1915-2022)

Durante a tarde deste dia 18 de Abril chegou-me a amarga notícia do falecimento de Madalena Sá e Costa, violoncelista aclamada e notável professora, verdadeira personalidade artística que em tanto concorreu para o enriquecimento do meio musical português.

Há alguns anos, na minha então qualidade de presidente do Ginásio Ópera, tive o gosto de organizar, em Lisboa, no Palácio Foz, uma sessão de homenagem a Madalena Sá e Costa, evocando a sua carreira de violoncelista e pedagoga. As nossas famílias estiveram ligadas ao longo de várias gerações, e tive a satisfação de com ela participar em diversas iniciativas culturais, nomeadamente em várias edições do Concurso de Instrumentos de Arco Júlio Cardona, organizado por um nosso amigo comum, o incansável Manuel Campos Costa (delegado da JMP da Covilhã), o que regularmente nos proporcionava tempo alargado de agradável convívio. Nas conversas que mantivemos, Pedro de Freitas Branco (meu tio-avô) era reiteradamente evocado como tendo sido um dos maestros com quem mais gostara de trabalhar.

Na cidade do Porto, fui beneficiário da generosa e muito amiga hospitalidade das irmãs Helena e Madalena Sá e Costa, fruindo a singular ambiência cultural da casa de porta verde do Largo da Paz – toponímia certeira, pois aí, entre as paredes desse domicílio que é uma espécie de templo da música, respirava-se o puro ar da paz culta gerada pela criatividade artística e intelectual. Guardarei para sempre a cara memória das animadas, afáveis e muito enriquecedoras conversas que aí tive com as duas Artistas: a pianista, falecida em 2006, e a violoncelista que agora nos deixou.

Para mim, este doloroso momento é, essencialmente, o da perda de uma Amiga, pessoa que, para lá do valor artístico, sempre muito estimei pela bondade, honestidade, finura que punha em tudo o que fazia, cultivando uma verdadeira aristocracia de sentimentos.

Aos filhos, Henrique Gomes de Araújo e Helena Araújo, aqui deixo um muito sentido abraço de pêsames.

João Maria de Freitas Branco

Caxias, 18 de Abril de 2022

 

NOTA: Este texto começou por ser parcialmente publicado no Facebook.

 

quinta-feira, 14 de abril de 2022

José Manuel Tengarrinha -- Recordação

 

Se o historiador José Manuel Tengarrinha ainda estivesse entre nós, teria feito 90 anos no passado dia 12 de Abril. Helena Pato, administradora do grupo “FASCISMO NUNCA MAIS! (no Facebook), lembrou nesse dia o combatente antifascista falecido em 2018. Comentei a publicação com o seguinte texto:

Para além de todas as cumplicidades de muitos anos, ainda tive o gosto acrescido de ter estado com o José Manuel Tengarrinha numa histórica experiência democrática: a primeira vez que em Portugal se utilizou o formato de primárias abertas para a constituição de uma lista de candidatos às eleições legislativas, rompendo com a tradição dos candidatos indicados pelas cúpulas partidárias. Uma feliz iniciativa do partido LIVRE tendo em vista as Eleições Legislativas de 2015. Como fomos ambos escolhidos nessas primárias abertas, integrámos depois a lista oficial de candidatos do LIVRE/Tempo de Avançar à Assembleia da Republica. Foi a primeira vez que o LIVRE se apresentou às eleições legislativas, não tendo conseguido eleger nenhum candidato. Curiosamente, o mandatário nacional dessa candidatura era também um prestigiado historiador: José Mattoso. Boas memórias. É sempre bom recordar o José Manuel Tengarrinha e justo prestar-lhe homenagem. Abraço grande, Helena.

João Maria de Freitas Branco
Caxias, 14 de Abril de 2022

domingo, 10 de abril de 2022

Conversa virtual sobre a guerra na Ucrânia (continuação)

 

Resposta de Francisco Bethencourt (8/4/22):

«Aprecio o tom desta ultima mensagem, mas nao me parece que o uso do nuclear seja para breve. A derrota da tentativa de conquista da Ucrania esta a assentar, os russos estao a digerir o triunfalismo deslocado e a humilhacao de um exercito baseado em bluff e inferiorizado por corrupcao generalizada. Optaram por concentrar-se num improvisado plano B de conquista do Donbas e da costa do mar Negro. Veremos se conseguem obter o que pretendem. Nao me parece que estejam inclinados para negociacoes de paz, nem eles nem os ucranianos. Nao vale a pena manifestar fraqueza frente ao projecto nacional-imperialista russo de inspiracao fascista, os ucranianos mostram toda a capacidade.»

 

Resposta de JMFB (10/4/22):

Posso estar enganado, mas penso que com o aparecimento das armas nucleares tácticas se operou uma transformação profunda na estruturação dos conflitos político-militares. Manifestar fraqueza perante Putin seria grave erro, sem dúvida. Concordo em absoluto. Mas, se muito não erro, negociar e repensar atitudes não é necessariamente uma manifestação de fraqueza; é, muitíssimas vezes, a expressão do poder da racionalidade, e, nessa precisa medida, uma manifestação de força. Admito que isto seja defeito profissional de quem, como eu, dedicou grande parte da vida a pensar a ciência; mas, na realidade, vejo na humildade do racionalismo crítico-dubitativo, na capacidade de reconhecimento de erros próprios e de consequente reformulação de métodos, de atitudes, de acções, no repensar da formulação programática, no reorientar de práticas política concretas, vejo nisto tudo uma força poderosa. Para já, avizinha-se o primeiro grande combate militar alargado. O objectivo imediato da Rússia parece-me ser o de conquistar totalmente o território mais rico da Ucrânia (toda a parte oriental e central, partindo da linha Kiev-Odessa). O que significa acabar com a Ucrânia que hoje conhecemos.

 

 

quinta-feira, 7 de abril de 2022

Conversa virtual sobre a guerra na Ucrânia

 

O meu texto “Que guerra?”, aqui publicado há poucos dias, suscitou um comentário discordante do historiador Francisco Bethencourt que considero merecer leitura reflexiva. Levanta a questão da “submissão” e da “cedência a chantagem”. Assim sendo, tomo a iniciativa de publicar aqui (sem nenhuma alteração) parte da conversa virtual que se desenrolou na minha página do Facebook nestes últimos dias. Coloquei entre aspas os vários comentários, identificando cada um dos autores. 

 

«SUBMISSAO e o que este post e varios comentarios propoem. Tenho respeito pelos russos que perdem empregos e arriscam a vida por se oporem a uma guerra de genocidio, sem falar da obvia resistencia heroica dos ucranianos. Nenhum respeito pelos serventuarios do fascista Putin que pululam no fb portugues. Ceder a chantagem fascista nao deveria ser opcao, mas ha quem o faca com devocao. E nao me venham falar dos neonazis na Ucrania, reproducao da propaganda russa. Basta ler os textos do Putin para ver quem e fascista e imperialista».

Francisco Bethencourt

Facebook, página de JMFB, 5 de Abril de 2022

 

«Francisco Bethencourt vens aqui introduzir temas que não foram referidos no texto do João Maria de Freitas-Branco , como o neonazismo, etc....gostaria , porque obviamente te estimo intelectualmente falando, a tua opinião sobre o TEMA introduzido: parar a escalada belicista».
Maria Isabel dos Santos Isidoro

 

Resposta de Francisco Bethencourt:

«Por vontade dos europeus e americanos a guerra tinha acabado logo com a rendicao da Ucrania para que o negocio continuasse sem interrupcao. Sim, o negocio de armas mundial cresce todos os anos. Incluindo a venda de armas a Russia. Os ucranianos decidiram resistir e estragaram o arranginho que convinha a todos. Merecem todo o nosso apoio, na linha do que esta a ser feito. E o unico caso interessante dos ultimos trinta anos. Foi a opiniao publica ocidental que empurrou os governos para a tomada de posicoes decentes. Nao devemos submeter-nos a chantagem nuclear por birra dos fascistas russos nao terem conquistado um pais que acham que nao deve existir. A conversa da NATO e dos EUA a manipularem os ucranianos e boa para vender aos pobres russos sob ditadura e aos subservientes ocidentais do Putin.»
Francisco Bethencourt

 

«Francisco Bethencourt então qual é a sua proposta de luta pela Paz ? Tem de haver cedências sem submissão , mas ninguém quer ceder nada. Afinal o que é negociar ?»
Gabriela dos Ramos Pineu

 

«De momento, não me parece exequível uma negociação directa USA/Rússia, que subestimaria até o papel da Ucrânia, a vítima da agressão. Posteriormente, sim, há que fazer tudo para que haja uma ordem de segurança internacional digna desse nome. O que será muito difícil, os ânimos estão muito exacerbados, e Putin quase se auto-excluiu como interlocutor válido.»
Francisco Assunção

 

«Inteiramente de acordo, João Maria. E mais! Já por várias vezes, e desde há muito tempo, que digo que os que andam a iludir esta questão central, andam a ajudar a prolongar a guerra. São pró guerra, querem mais entretenimento! É chocante, mas é isto. Quero crer que a maior parte nem dá por isso, mas o resultado é este. Um dia vamos ter de lhes pedir responsabilidades. Sugiro que os defensores da solução guerreira sejam coerentes, peguem em armas e vão para a Ucrânia…»
Carlos Alberto Augusto

 

«João Maria de Freitas-Branco fico mais satisfeito. Mas o que defendes é a submissão da Ucrânia em nome da geoestrategia. Já te interrogaste porque estes povos (e podes acrescentar agora Suécia ou Finlândia) temem o expansionismo russo?»
António Teodoro

 

«Antonio Teodoro mas, então só se pode dizer que o Putin é um FDP? E lá por ser não se pode reflectir sobre o decorrer da guerra? Agora todos os outros desde que não sejam a corte do Putin são maravilhosos? Não nos devemos interrogar ? Pensar como será melhor para a humanidade? Acaso pensa que será melhor continuar a escalada belicista até á derrota de uma potência com armas nucleares? É essa a questão levantada pelo João Maria....nem percebo como isto não e claro!»
Maria Isabel dos Santos Isidoro

 

 

Minha resposta ao comentário inicial:

Francisco Bethencourt, Obrigado pelo teu comentário manifestando discordância. Compreendo o teu sentir que é também o meu. Mas não estarás a confundir submissão com negociação? Será que uma negociação com o inimigo é necessariamente um acto de submissão? Claro que não queremos “ceder à chantagem fascista”. Num mundo melhor, a ONU disporia de umas forças armadas com capacidade muito superior à de qualquer país e, por vontade maioritária expressa, intervinha em defesa dos princípios do direito internacional e dos valores ético-morais, e a Paz triunfava. Como não é esse o mundo em que vivemos, a coisa é mais complicada. Chegamos então ao tema do meu artigo (redigido para o blog RAZÃO e republicado aqui). Repito o que disse à Irene Pimentel: Creio ser importante perceber qual é o tema central do meu texto. A dimensão criminosa da invasão russa já tinha sido múltiplas vezes abordada por mim em escritos anteriores. Neste, é apenas um dos supostos, associado ao horrível sofrimento das vítimas; outro suposto é a colossal perigosidade desta guerra. Nessa base, introduzo o tema e coloco questões. Como p. e.: a escalada bélica concorre para a solução? Pode derrotar-se militarmente uma tirania nuclear? É isso possível? E mesmo que seja, será que devemos correr riscos tão dramaticamente perigosos para a sobrevivência da Civilização? A quem não estiver de acordo com a minha proposta para a paz, apenas peço que me digam qual é a solução alternativa. Como conquistar a paz? Dêem-me uma alternativa e ficarei satisfeitíssimo. Neste momento histórico de tão elevada gravidade, a tua opinião é muito importante. Espero ter clarificado o teor das minhas interrogativas e a fundamentação da proposta apresentada no texto. Como também disse ao António Teodoro, devíamos estar a conversar sobre tudo isto à moda antiga, à mesa da tasca, com petiscos de qualidade e bom néctar; mas neste presente é tudo virtual... Abraço!

João Maria de Freitas Branco
Facebook, 7 de Abril de 2022


Resposta de Francisco Bethencourt (8/4/22):

«Aprecio o tom desta ultima mensagem, mas nao me parece que o uso do nuclear seja para breve. A derrota da tentativa de conquista da Ucrania esta a assentar, os russos estao a digerir o triunfalismo deslocado e a humilhacao de um exercito baseado em bluff e inferiorizado por corrupcao generalizada. Optaram por concentrar-se num improvisado plano B de conquista do Donbas e da costa do mar Negro. Veremos se conseguem obter o que pretendem. Nao me parece que estejam inclinados para negociacoes de paz, nem eles nem os ucranianos. Nao vale a pena manifestar fraqueza frente ao projecto nacional-imperialista russo de inspiracao fascista, os ucranianos mostram toda a capacidade.»

 

Resposta de JMFB (10/4/22):

Posso estar enganado, mas penso que com o aparecimento das armas nucleares tácticas se operou uma transformação profunda na estruturação dos conflitos político-militares. Manifestar fraqueza perante Putin seria grave erro, sem dúvida. Concordo em absoluto. Mas, se muito não erro, negociar e repensar atitudes não é necessariamente uma manifestação de fraqueza; é, muitíssimas vezes, a expressão do poder da racionalidade, e, nessa precisa medida, uma manifestação de força. Admito que isto seja defeito profissional de quem, como eu, dedicou grande parte da vida a pensar a ciência; mas, na realidade, vejo na humildade do racionalismo crítico-dubitativo, na capacidade de reconhecimento de erros próprios e de consequente reformulação de métodos, de atitudes, de acções, no repensar da formulação programática, no reorientar de práticas política concretas, vejo nisto tudo uma força poderosa. Para já, avizinha-se o primeiro grande combate militar alargado. O objectivo imediato da Rússia parece-me ser o de conquistar totalmente o território mais rico da Ucrânia (toda a parte oriental e central, partindo da linha Kiev-Odessa). O que significa acabar com a Ucrânia que hoje conhecemos.

 

 

 

segunda-feira, 4 de abril de 2022

Que guerra?

  

Pelo que consigo observar, a grande maioria dos meus concidadãos acredita que a guerra que está a ser travada em solo ucraniano é essencialmente um conflito entre dois países: a Rússia e a Ucrânia. Completa ilusão. A guerra opõe EUA, e os seus aliados, à Rússia e seus aliados, sendo que estamos quase a pisar a fina linha que separa o uso de tácticas decretadas por meios não militares das decretadas por meios militares (de acordo com a conceptualização estabelecida pela EU em 2015). Impunha-se, por isso, que, partindo de uma atitude de honesta humildade racional, os EUA e a NATO abdicassem da disposição beligerante e dessem absoluta prioridade a uma imediata negociação directa, ao mais alto nível, entre EUA e Rússia.

É de quem reivindica o estatuto de “defensor da democracia” que se espera a urgente iniciativa pacificadora. Mas não é o que se tem visto. Os arautos da guerra continuam a falar mais alto. No mundo ocidental, a acção comunicacional tende a criar opiniões públicas favoráveis à opção marcialista – veja-se o resultado na Suécia, com 59% da população a advogar a estúpida e suicidária adesão à NATO; ou na Finlândia, com o Parlamento pronto a discutir a adesão. Entretanto, estes dois países já estão a participar, pela primeira vez, em exercícios militares da NATO. Como se tal não bastasse, em face destas perigosíssimas inclinações político-militares o Secretário-Geral da NATO, parecendo querer lançar gasolina para a fogueira, declarou há poucas horas que «Suécia e Finlândia serão bem recebidas na Aliança».

É tudo demasiadamente assustador.

Não devia o Secretário-Geral das Nações Unidas tomar uma iniciativa histórica, exigindo, com o apoio de um significativo grupo de Nações, que EUA e Rússia, através dos respectivos presidentes, Biden e Putin, negociassem um urgente e imediato cessar-fogo em nome da defesa da Civilização? Não deverá Portugal, em coordenação com o Secretário-Geral das Nações Unidas (o lusitano António Guterres), estar entre os primeiros proponentes desse passo que é obrigação imperiosa?

Continuar a armar os ucranianos para vencerem os russos é erro colossal: ninguém conhece a forma de derrotar uma potência nuclear alcançando objectivos construtivos. Na perspectiva da continuidade da civilização humana, não existem vitórias possíveis num conflito mundial nuclear. Estamos muito perto do ponto em que essa ameaça devém realidade apocalíptica.

Aqui, no nosso canto ocidental, em face desse perigo estreme e considerando que os Estados membros da NATO já se encontram em guerra, com recurso a meios não militares (guerra pré-militar), não deveria ter sido pedido ao Governo que informasse sobre as condições de segurança da população nacional? Caso haja contaminação radioactiva da atmosfera (por efeito indirecto, por exemplo), de que meios dispomos para nos protegermos? Há um plano nacional de protecção? Há recursos farmacêuticos? Há abrigos?

Há uma única prioridade urgente: negociar a Paz. Já!

João Maria de Freitas-Branco
Caxias, 4 de Abril de 2022