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sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Aprender com o Egipto

Viva o Povo Egípcio!
O dia 11 de Fevereiro de 2011, este mesmo que agora estamos a viver intensamente pegados às imagens e sons de libertação revolucionária que nos chegam do distante Cairo, vai ser nome de rua, de praça, de ponte, vai ter monumentos evocativos, vai ser título de livros e vai ser nos anos vindouros objecto de saudade na mente de milhões de seres humanos de diferentes nacionalidades. Porquê? Porque foi o dia do culminar de um movimento político-revolucionário de massas que se supunha ser impossível. É, nesse sentido, algo que transporta em si o delicioso encanto da realização do impossível: uma eficaz revolução ordeira e pacífica sem líderes! As massas lideraram-se a si próprias com enorme bom senso, desenvolvendo uma acção política consequente. Eis o que acima de tudo confere encantadora e comovedora beleza aos acontecimentos que estão a ter lugar no Egipto.
Grande lição de civismo dada por um povo que interiorizou uma sabedoria milenar. Grande lição de política espontaneamente doada por milhares de cidadãos anónimos reunidos sob a égide de uma indomável vontade de transformar para a liberdade. Não creio ser fruto do acaso o virem tais lições de um país como o Egipto. Habituei-me a admirar a perspicácia natural daquelas gentes. Há nelas uma inteligência latente que, se não me engano, lhes advém da tradição milenar do comércio. Cada egípcio é um artista do negócio e a arte do negócio é uma arte da sedução. É este um aspecto essencial para a compreensão profunda dos históricos acontecimentos das últimas horas, se bem que não veja nenhum comentador a referi-lo. Não ter havido hoje um banho de sangue nas ruas do Cairo é algo motivador de grande espanto, considerando que estávamos perante uma manifestação de um milhão de pessoas justamente indignadas e revoltadíssimas com o conteúdo inaceitável do último discurso do chefe opressor Mubarak, uma multidão agindo sem a presença de um líder carismático. Admirável a instintiva contenção, a sapiência, o bom senso da multidão. Que diria Shakespeare deste comportamento de uma multidão sem líderes?
O impossível parece ter sido possível.
A combinação de uma boa elite social (uma nova geração urbana com apreciável nível de formação) com modernos e variados meios tecnológicos (computador pessoal, telemóvel, sms, Internet, Facebook, Twitter, etc) parece ganhar extraordinária relevância política. Os resultados dessa combinação são motivo de júbilo. Mas para os senhores do poderio esses resultados vão, a partir deste dia 11, ser também motivo de enorme preocupação. A ideia de Revolução ganhou hoje nova dimensão, novos contornos, nova riqueza, novas potencialidades, novas possibilidades. Ela tornou-se hoje ainda mais sedutora para os injustiçados, para os ofendidos, para os humilhados. Mas para o poderio ela passa a ser agora, por isso mesmo, ainda mais perigosa.
Os últimos 18 dias da história de uma Nação histórica legam-nos múltiplos e fascinantes elementos de reflexão no domínio da filosofia social e política ou da politologia. Triste seria abstermo-nos de realizar essa meditação ou não sabermos pensar esses elementos agora tão generosamente fornecidos por um povo em luta.
Pena não poder estar nas ruas do Cairo, misturado com esse estimado povo, a fruir a inimitável fragrância romântica da utopia revolucionária.

Mulheres e homens egípcios de Tahrir parabéns e obrigado!