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sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

Alerta!


Alerta!

Não seria necessário recuar muito no tempo. Pouco mais de um ano; dois, no máximo. Se nessa altura alguém me tivesse dito que uma embaixadora dos Estados Unidos da América nas Nações Unidas iria dizer o que foi dito oficialmente há poucas horas, em nome da Casa Branca, em nome do Governo americano, sobre a votação relativa ao reconhecimento ou não reconhecimento de Jerusalém como capital de Israel, eu não teria acreditado. Um representante oficial da Nação de Thomas Jefferson, John Adams, Thomas Paine, Benjamin Franklin poder afirmar, em plena assembleia geral das Nações Unidas, que a maioria dos países ali representados estavam obrigados a votar de acordo com a vontade do Governo americano porque os EUA lhes pagam para isso, era para mim algo inconcebível. Mas foi isso mesmo que se passou diante dos nossos olhos esbugalhados e para minha absoluta estupefacção.

A administração Trump declarou assim, abertamente, dirigindo-se ao mundo inteiro, que era contra a Democracia, contra a liberdade de voto, contra os princípios da Revolução Americana, contra os ideais dos Founding Fathers. Não será isto motivo mais do que suficiente para iniciar um imediato processo de impeachment? A minha resposta é clara e inequívoca: Sim! Sim, é motivo e é urgente que assim se proceda.

O meu agudo estado de inquietude perante as inaceitáveis, ameaçadoras, alarmantes e muito perigosas declarações do Governo norte-americano, liderado por um doente psíquico obsceno, agrava-se ainda mais quando noto a relativa indiferença e passividade de muitos. A banalização da imoralidade surte os seus nefastos efeitos. Mais um escândalo, entre muitos, de diária frequência. Frequência que banaliza… Mas este é um escândalo diferente, de outra dimensão. É escândalo maior; indecência universal! É, por isso, ainda mais preciso gritar: Basta! É urgente resistir! Todos os países civilizados têm a imediata obrigação de avançar com um voto de protesto. Devem convocar os respectivos embaixadores americanos para transmitirem que não admitem um tal comportamento contrário aos mais elementares princípios norteadores da Organização das Nações Unidas, do Direito internacional, do Estado de Direito Democrático. Princípios básicos da civilização moderna.

Dizer, com todas as letras: pagamos para que votem em nós, e se não votam em nós retiramos o apoio à ONU, é uma intolerável obscenidade política.

É urgente resistir. Espero ver o Governo do meu País tomar, no palco internacional, clara posição de resistência e de veemente indignação.

João Maria de Freitas-Branco
Caxias, 22 de Dezembro de 2017

 

 

 

quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

Luís de Feitas Branco e a Alemanha nazi


Luís de Freitas Branco e a Alemanha nazi

Um esforço de esclarecimento


Desde o início da semana que tenho vindo a recolher reacções à publicação de um artigo de jornal em que Luís de Freitas Branco, meu avô, é citado como tendo sido um dos “músicos portugueses que colaboraram com a Alemanha nazi”; é este, aliás, o título que se faz acompanhar de uma fotografia do compositor (foto de grande formato, ocupando 4 colunas), única imagem associada ao texto. O referido artigo apareceu, com grande destaque, na página dedicada à cultura, na edição de 16 de Dezembro do semanário Expresso (ainda nas bancas). É assinado pela jornalista Alexandra Carita. Na lista de músicos citados como tendo “colaborado” figura também o nome de outro meu familiar: o do maestro Pedro de Freitas Branco, meu tio-avô e irmão mais novo de Luís. Importa talvez recordar, principalmente para leitores mais jovens, que o uso, sob a forma de substantivo, adjectivo ou verbo, de termos como “colaboração”, “colaborador”, “colaborar” têm, neste contexto histórico, grave conotação pejorativa. Remetem para uma prática ou atitude política criminosa: o colaboracionismo, uma forma de apoio à barbárie nazi. É o contrário de resistência. A palavra francesa “collaborationniste”, que está na origem do termo português, foi utilizada por Pétain num célebre discurso de incentivo à traição nacional consubstanciada na submissão da França aos interesses e propósitos imorais do invasor nazi. Excluindo a hipótese de uma excessiva ignorância historiográfica e política, o título não pode ser considerado uma escolha ingénua do editor jornalístico. Acrescento também, e desde já, que não desconhecia o facto de meu Avô ter mantido contactos com a Alemanha mesmo depois do início da segunda Grande Guerra. Nem creio que isso constitua novidade para os musicólogos, investigadores universitários e/ou estudiosos da história da música em Portugal.

Ao longo dos últimos dias, tenho podido verificar, sem surpresa, que os leitores mais incautos, e até alguns menos desprevenidos, retiraram a seguinte conclusão geral: Luís de Freitas Branco, pessoa de reconhecida origem conservadora, monárquica, católica, e co-fundador do Integralismo Lusitano, nutria nesses idos anos 40 do século XX alguma dose de empatia com a Alemanha do Führer. Quando, com imaginável prioridade comercial, um jornal de referência cede à tentação de apimentar a titulação em detrimento do respeito pelo princípio do rigor e pelo valor da Verdade não nos podemos surpreender com este resultado de leitura. Mas não deixo de me sobressaltar com o facto de um órgão de comunicação social de referência ser tão permeável à contaminação pela voga sensacionalista, pelo kitsch que tem vindo a inundar muitos espaços da comunicação social. (Apresso-me a dar conhecimento de que o título do artigo não é da responsabilidade da autora, coisa que, podendo parecer estranha, é, porém, por boas ou más razões, prática corrente na esfera da edição jornalística. Essa ocorrência foi-me confirmada pela própria jornalista Alexandra Carita, que me merece toda a consideração e com quem tive o cuidado de falar antes de me lançar à escrita destas linhas.)

O que aqui me convoca é a total inveracidade da compreensível conclusão retirada por alguns, talvez muitos leitores. Não me move qualquer tipo de orgulho familiar ou de parti pris. Preocupa-me, tão só, e como sempre, servir a Verdade. Nada de mais espectável em um profissional da Filosofia, do amor pelo saber. Assim sendo, no esforço de esclarecimento que este escrito corporiza talvez a melhor opção seja relatar um acontecimento, contar um episódio da vida do nosso aclamado músico compositor que se me afigura bem revelador do seu pensamento político, assim como da sua acção enquanto cidadão praticante da cidadania. Aqui vai:

Estando um dia tranquilamente a trabalhar em casa, lendo e escrevendo à secretária, Luís ouviu entoar uma canção. Aguçando o seu treinado ouvido musical logo percebeu ser o seu único filho, João, quem estava a cantar; e concentrando mais a atenção auditiva pôde, sem grande demora, percepcionar algo que de súbito o sobressaltou: o que estava a ser cantado era de origem germânica, como indicavam as próprias palavras cantadas em puro idioma alemão; tratava-se de uma das principais canções dos camisas castanhas, um Lied da SA, a milícia paramilitar nazi liderada por Ernst Röhm que tão decisivamente contribuiu para o triunfo do Partido Nacional Socialista (em alemão e com denominação completa: NSDAP-Nationalsozialistische Deutsche Arbeiterpartei). Como podia uma partitura militarista da Sturmabteilung (o sinistro nome alemão da não menos sinistra milícia – nome que tem apenas o mérito de não enganar quanto às intenções), como podia tal música e letra estar a ecoar dentro de casa? Luís, com a melodia militarista na cabeça, levantou-se da cadeira em que estava sentado à secretária e avançou pela casa em direcção ao filho, perguntando-lhe: Por que estás a cantar isso? Onde é que aprendeste essa canção? Na escola, respondeu prontamente o rapaz de 11 ou 12 anos de idade. A escola em que estava matriculado era a Escola Alemã, em Lisboa, instituição ainda hoje existente. Decorria então o ano escolar de 1933/34. Hitler tinha chegado ao poder em Janeiro de 1933. Essa trágica mudança de governo na Alemanha começara a ter fortes reflexos nos regulamentos internos da Escola Alemã principalmente a partir do início desse ano escolar, meses depois do incêndio do Reichstag. A máquina de propaganda estava cada vez mais oleada. A ideologia nazi, o espírito militarista, os hábitos totalitários, o anti-semitismo, iam sendo incutidos nos jovens alunos da Escola Alemã de Lisboa, tendo passado a ser obrigatória a saudação nazi dentro do recinto escolar, bem como, claro está, a aprendizagem dos mobilizadores cânticos militaristas nazis que Luís de Freitas Branco agora escutava da boca do seu próprio filho. Não hesitou em passar da estupefacção à acção. O pai Luís tomou de imediato a decisão de retirar o filho da Escola Alemã, fazendo saber à respectiva direcção escolar as razões que o moviam: a completa discordância com a nova orientação ideológica. Tinha ali matriculado o seu único filho com o objectivo de o enriquecer ética e intelectualmente através do contacto com a alta cultura alemã, essa Cultura nacional que tanto admirava. A sua Alemanha era a de Johann Wolfgang von Goethe, Immanuel Kant, Ludwig van Beethoven; não a do Führer Adolf. Registe-se, a título de mera curiosidade na biografia de alguém que também veio a tornar-se figura pública, que a saída da Escola Alemã não fez com que o filho esquecesse a música e a letra de algumas dessas canções; isso permitiu que conseguisse cantá-las, mesmo que só parcialmente, até ao fim da vida. Facto que talvez nos diga qualquer coisa sobre o grau de eficácia desses cânticos nazis enquanto instrumentos de propaganda e galvanização.

Creio que este episódio biográfico, envolvendo, na sua dimensão de intimidade familiar, algo tão relevante como a educação/formação do seu jovem filho, diz praticamente tudo sobre o posicionamento ideológico de Luís de Freitas Branco já dez anos antes dos contactos referidos no artigo motivador deste texto.

Luís de Freitas Branco nunca teve a menor simpatia pelos movimentos totalitários de extrema-direita, e muito menos pelo Nacional-Socialismo alemão, pelo nazismo. Desde meados dos anos 1920, após a instauração da ditadura militar em Portugal, o músico compositor e destacado intelectual iniciou uma caminhada política para a esquerda, tornando-se cada vez mais um simpatizante dos ideais socialistas, tendo chegado a financiar de forma regular a acção clandestina do PCP – recorde-se que o seu melhor Amigo na década de 40 se chamava Bento de Jesus Caraça. Esta caminhada está solidamente documentada no Diário (um diário de ideias) que começou a redigir em 1930. Uma vez que o Diário ainda não chegou a ser publicado, remeto os interessados para o pequeno livro que publiquei em 2005, intitulado O Músico-Filósofo (ainda à venda nas Livrarias Bulhosa e em outros locais).Quem quiser, aí poderá aprofundar o conhecimento desta invulgar e muito singular metamorfose ideológica de uma figura marcante da cultura portuguesa do século XX.

No artigo do Expresso, baseado numa investigação recentemente levada a cabo por Inês Thomas Almeida num arquivo de Berlim, é revelado ao grande público, mas, ao que suponho, não aos especialistas, ter havido no início da década de quarenta do século passado, ou seja, em plena fase de guerra mundial, «uma entrega de partituras em troca de dinheiro» (sic) por parte de um conjunto de figuras do meio musical português. A expressão usada sugere a ocorrência de ilícito. Porém, estranho seria que assim não tivesse sido, pois em sociedades modernas, não esclavagistas, o trabalho é pago; de forma mais justa ou menos justa, é certo, mas entende-se dever ser pago. No caso vertente, o direito de autor é o salário do autor. Foi isso, precisamente, o que foi pago, com toda a legitimidade, aos autores das partituras utilizadas na Alemanha.

O artigo apresenta uma lista de nomes de músicos que alegadamente “colaboraram”. Nomes que a jornalista afirma terem-lhe sido fornecidos por quem realizou a investigação e que figuram nos documentos que lhe foram mostrados, de origem alemã. Ficam assim atirados para o mesmo saco pessoas como, entre outras, José Viana da Mota, os irmãos Luís e Pedro de Freitas Branco, Armando José Fernandes, Ruy Coelho, Ivo Cruz e até um desconhecido Elísio que é bem provável ser Elisa. Uma mistura tão inaceitável como de mau gosto. Como se podem juntar como iguais os amigos e os inimigos da cultura musical portuguesa? Os que foram assumidamente fascistas, representantes do Estado Novo, e os que só por ignorância, por despudor ou por falta de honestidade podem ser rotulados de fascistas ou nazis?

Em nome de elementares princípios orientadores do trabalho científico, cada caso tem que ser historicamente contextualizado e analisado com máximo rigor. Até os irmãos Freitas Branco são casos bem distintos, convocando atenção separada.

Para José Viana da Mota, por exemplo, a Alemanha, com a sua extraordinária Cultura, era muito mais do que o Governo alemão, fosse ele qual fosse; e o regime nazi ou a guerra não faziam com que, em 1941/43, um cidadão alemão fosse necessariamente um nazi, independentemente da responsabilidade histórica que se considere pesar sobre o povo alemão na época da ascensão e do domínio do partido nazi. Viana da Mota e o seu amigo Luís de Freitas Branco mantinham contacto com pessoas de nacionalidade alemã que conheciam de tempos mais recuados, nomeadamente dos anos em que um e outro viveram em solo alemão. Anos decisivos para a formação intelectual de ambos. Esses laços consolidados antes de 1933 terão prevalecido durante alguns contactos realizados depois de o Partido Nacional Socialista ter assumido o poder. A isso se terá adicionado a vontade bem-intencionada de dar a conhecer a públicos estrangeiros obras de artistas portugueses, contrariando o asfixiante isolamento internacional a que esses criadores da arte dos sons estavam submetidos, também por efeito da quase total ausência de investimento na edição musical, circunstância que em muito dificultava a execução das suas obras.

Não me permito concluir este investimento de esforço em prol do esclarecimento sem fazer um outro reparo corrector. No texto publicado no Expresso o Instituto Ibero-Americano de Berlim é referido como sendo «uma instituição nazi que funcionou entre 1939 e 1943». No entanto, para benefício de numerosíssimos investigadores de todos os cantos do mundo, entre os quais me incluo, esse instituto permanece bem vivo, em plena actividade e oferecendo-nos, entre outras preciosidades, a maior biblioteca do mundo especializada em cultura Ibero-Americana. O Instituto foi fundado em 1930 e não em 1939. As muitas horas de trabalho por mim despedidas no interior do esplêndido espaço arquitectónico que ocupa desde 1977 foram, confesso com profunda sinceridade, momentos de verdadeira felicidade profissional e intelectual, pois sempre aí respirei ares de uma atmosfera de Liberdade, ecléctica, de grande abertura, de tolerância e de livre intercâmbio cultural. Por isso, e não só por isso, choca-me vê-la ser reduzida a uma única fase: essa que foi a mais negativa de toda a sua longa história ao serviço da Cultura.

Termino com outra confissão.

Considero que o meu Avô devia ter assumido em 1941/43 a mesma atitude do meu saudoso amigo Fernando Lopes-Graça que, como é sabido, foi seu discípulo. Ou seja, devia ter recusado o convite ou o pedido de envio de obras suas para serem tocadas numa Alemanha ensombrada pela barbárie nazi. Digo isto, mesmo estando consciente daquilo que ainda se ignorava, desde logo em relação ao holocausto. É claro que o conhecimento que hoje temos não é o que tinham os portugueses em 1941/43. Mas o que se sabia era mais do que suficiente para impor uma atitude igual ou semelhante à assumida pelo autor das Heróicas e que fica sintetizada na seguinte afirmação que lhe é atribuída:

«Enquanto a música de Paul Hindemith, considerada música degenerada, não for tocada na Alemanha, não quero que a minha música seja lá tocada».

Luís de Freitas Branco devia ter dito o mesmo ou algo parecido. Diante da barbárie e da institucionalização do Mal extremo só há uma coisa a fazer: resistir!

João Maria de Freitas Branco
Caxias, 20 de Dezembro de 2017

 

NOTA: A jornalista Alexandra Carita manifestou-me a sua disponibilidade para publicar novo artigo tendo em vista dissipar equívocos que possam ter sido suscitados pelo texto inserido na edição do Expresso do passado dia 16. Nesse sentido, e correspondendo ao que ela me solicitou, irei fornecer-lhe, em breve, documentação sobre o posicionamento ideológico de Luís de Freitas Branco.

 

quinta-feira, 12 de outubro de 2017

Operação Marquês


Meu Caro Eduardo,
Tudo isto é assustador e vergonhoso, mesmo antes de se realizar o julgamento e seja qual for o resultado; porque sobre várias questões gravíssimas qualquer cidadão informado está já em condições de condenar o arguido mais mediático. Repara que no caso do ex-primeiro-ministro, relativamente à ida para Paris e ao que por lá se passou, foi ele próprio que se condenou, provando que tinha mentido a todos os portugueses. Portanto, sobre algumas questões, o meu julgamento já está feito há muito tempo e unicamente com base em declarações públicas do próprio arguido; afirmações inequivocamente auto-incriminatórias. Além disso, conheço bem Paris, essa deslumbrante cidade Luz, e sei muitíssimo bem o que financeiramente significa morar nessa capital mantendo os hábitos de vida que o próprio engenheiro nos deu a conhecer serem os seus. Mas se muito não erro, o principal nisto tudo é outra coisa: é fazer o julgamento do Regime. Será que se vai conseguir? Forte abraço.
Carta aberta endereçada ao meu amigo Eduardo Cintra Torres no seguimento de um comentário publicado por ele na sua página do Facebook, no dia 12 de Outubro de 2017. O meu texto foi inicialmente publicado nessa mesma página, como comentário ao comentário.
 

sábado, 17 de junho de 2017

Nova sinalização


Nas nossas cidades há uma vasta gama de sinalizações, tendo por objectivo informar, prevenir e orientar o cidadão que nelas circula. A utilidade desse sinalizar é perfeitamente consensual. Considero, no entanto, ser vantajoso ampliar a sinalização, alargando-a a outra esfera, uma vez que não seria menos útil haver também em cada esquina das principais artérias das nossas metrópoles aquilo que baptizo de sinalização intelectual. Um tipo de indicação que prevenisse o cidadão relativamente a um perigo constante: o da perda da Liberdade. Tal como há sinais de trânsito avisando da existência de risco de atropelamento ou de acidente, devia haver também sinais indicativos desse outro nível de risco. O perigo permanente de ser vítima do totalitarismo, da ditadura, do fascismo, ou, caso se prefira terminologia mais clássica, o perigo da tirania. Como estou em crer que alguns aconteceres recentes, com destaque para o facto histórico de um doente mental ter sido eleito presidente do mais poderoso Estado actualmente existente à face do Planeta, concorrem para reforçar a utilidade da minha proposta de implementação de um novo tipo de sinalização pública, tomo já a liberdade de deixar aqui, de imediato, algumas sugestões relativamente ao conteúdo da sinalização urbana que proponho.

Cuidado! Pratique a cidadania para evitar ser atropelado

Cuidado com os furtos da Liberdade; pode sempre acontecer aqui

Atenção! Se não se disponibilizar para morrer pela Liberdade, vai morrer pisado pela tirania

Atenção! Aprenda com a História, evitando um acidente histórico

Atenção! Cultive o hábito do pensamento crítico, dando preferência à utilização da sua cabeça

Cuidado! Não troque a Liberdade pela Segurança; sem Liberdade nunca estará seguro

Como a cidade está cheia de turistas, e para que o entendimento da sinalização seja mais universal, talvez seja recomendável o uso do idioma mais global, o inglês. Nesse caso, um dos sinais que sugiro como um dos mais necessários inspira-se numa asserção atribuída a Thomas Jefferson:

Attention! Eternal vigilance is the price of Liberty

Aqui fica a minha modesta proposta. Em cada esquina das ruas mais frequentadas deve ser colocado um sinal de novo tipo, com avisos/conselhos iguais ou semelhantes aos que acabo de sugerir. Será um novo tipo de sinalização urbana: a sinalização intelectual.
João Maria de Freitas-Branco
Caxias, 17 de Junho de 2017

Vasco de Magalhães-Vilhena


NOTÍCIA E CONVITE À LEITURA

Para conhecimento de todos os eventuais interessados, informo que foi recentemente publicado na revista Philosophica, editada pelo Departamento de Filosofia e pelo Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa, o meu ensaio intitulado “Vasco de Magalhães-Vilhena e o seu legado epistemológico”.

Referência bibliográfica:

Philosophica
nº49, Abril de 2017
ISSN: 0872-4784

Vasco de Magalhães-Vilhena
historiador social das ideias

Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa
Departamento de Filosofia / Centro de Filosofia
Internet: http//revistafilosophica.weebly.com/

 

Sinopse

O número 49 da revista Philosophica reúne artigos que têm em comum uma relação com a vida e o pensamento de Vasco de Magalhães‑Vilhena, Professor do Departamento de Filosofia da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa de 1974 a 1979.
Por ocasião do centenário do seu nascimento (1916‑2016), e assinalando a doação do seu espólio bibliográfico pelo Partido Comunista Português à Biblioteca da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, realizou‑se nesta Faculdade, a 2 de Junho de 2016, a Jornada de Homenagem a Vasco de Magalhães‑Vilhena: “Historiador Social das Ideias”. Assim se entendia, no seu próprio labor intelectual, o antigo Professor de Filosofia da Faculdade de Letras; assim se intitula também este número da Philosophica, cultivando a memória do legado de Magalhães‑Vilhena, não por alguma espécie de culto necrófilo, mas para o deixar como referência filosófica às gerações mais jovens, a fim de que estas tenham o lastro das anteriores, onde possam inscrever de forma ciente novas diferenças e tendências de pensamento.

quarta-feira, 19 de abril de 2017

Dona Sabina - Homenagem


Ontem, dia 11 de Abril de 2017, ao início da manhã, faleceu a Dona Sabina – assim era tratada por muitas gerações de alunos e professores do Liceu de Oeiras, onde trabalhou durante várias décadas como contínua, sempre muitíssimo estimada pelos jovens alunos, bem como pelos docentes e pelos seus colegas de trabalho. Conheci-a em meados dos anos 60, quando com o seu único filho, o Rui, entrei para o Liceu, iniciando assim uma relação de amizade estendida por mais de meio século de vida.

Quando se fala da história de um estabelecimento de ensino como o Liceu evocam-se, invariável e compreensivelmente, os bons professores que aí leccionaram; mas olvida-se de forma sistemática a acção pedagógica, formativa, desenvolvida por pessoas como a Dona Sabina – Sabina Marques Capão Andrade, de seu nome completo. No contacto diário com os alunos, sempre alimentando uma relação de grande proximidade com esses jovens, desempenhou ela relevante função educativa, não raramente temperada de genuíno espírito maternal. Legado porventura bem mais enriquecedor do que o de muitos docentes, mas injustamente deixado na penumbra da memória até por aqueles que profissionalmente se têm dedicado à investigação historiográfica na esfera da educação em Portugal.

Conversar com pessoas que estimava era um dos seus maiores prazeres. E para nós era o contentamento de poder saborear o seu constante sentido de humor, a sua lucidez, a sua ironia mordaz durante as longas cavaqueiras em que nunca se cansava. Manteve estas capacidades até o dia de ontem. O seu último. Estar na boa companhia desta nonagenária era receber uma injecção de amor à Vida. Também por isso, já neste dia em que nos despedimos da Dona Sabina sinto fortes saudades.

Pouco tempo antes de morrer, numa dessas estimadas conversas, disse: «Se não fosse este cansaço nas pernas, que faz com que me custe andar, ia à manifestação do 25 de Abril! É o que me apetece!»

Por tudo isto e muito mais, ficará sempre nas minhas melhores memórias de vida.

João Maria de Freitas-Branco
Caxias, 12 de Abril de 2017

sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

Para reflectir


No dia de hoje, dia da tomada de posse do 45º presidente norte-americano, e dadas as presentes circunstâncias históricas, apetece-me recordar aqui, publicamente, uma passagem de um texto epistolar de John Adams, primeiro vice-presidente e segundo presidente dos EUA, escrito endereçado ao pensador político John Taylor:
«Lembre-se, a democracia nunca dura muito. Cedo se desperdiça, esgota e destrói a si mesma».
 A entrada de um individuo como Donald Trump na Casa Branca é expressão do processo de estupidificação em curso, o PEC, e representa o actual triunfo do kitsch, bem como o fortalecimento da mentalidade antidemocrática. Contrariando em parte o alerta de John Adams, a história dos próprios EUA demonstrou que a inclinação suicidária pode ser contrariada no seio da própria democracia através da criação de elites dominantes cultas – bem diferentes das que agora prosperam. Em 1797, na América, assistiu-se à tomava de posse de John Adams como presidente; hoje, decorridos duzentos e vinte anos, vamos assistir à tomada de posse de Donald Trump. Reflicta-se sobre a diferença qualitativa, sobre o decaimento moral, intelectual, educacional, para que possamos agir consequentemente em prol da reconquista de elevação.
João Maria de Freitas-BrancoCaxias, 20 de Janeiro de 2017