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domingo, 7 de novembro de 2010

Revelação do mistério do milagre do Sol

A noite do passado dia 23 de Outubro proporcionou-me curiosa vivência. Foi a última noite de Lua cheia, e, por volta das 23h., durante um passeio nocturno pelo campo na companhia da minha mulher e do meu cão, ao olhar para a Lua verifiquei que as nuvens na sua proximidade, nuvens baixas, tinham muito fraca densidade e quando passavam diante do disco lunar deixavam de se ver, por efeito da grande intensidade da luz reflectida. Por essa razão, embora as nuvens se interpusessem, a imagem da superfície do astro era surpreendentemente nítida. Como se de facto não houvesse nenhuma nebulosidade sobreposta. Mas em redor do planeta viam-se cúmulos mais densos, situados a muito maior altitude. Claro está que as nuvens mais afastadas e mais densas se deslocavam, em relação ao observador terrestre, mais lentamente. Foi então que se deu um primeiro efeito óptico. O observador ficava com a nítida sensação de que as nuvens mais visíveis estavam num plano superior ao da órbita do nosso satélite natural. Dito de outro modo, a lua parecia estar dentro da atmosfera terrestre! Era impressionante. As nuvens eram percepcionadas como estando a passar por traz do astro. Ilusão óptica muitíssimo curiosa. Mas a coisa não ficou por aqui. A dada altura, a Lua começou a agitar-se. Dava pequenos saltos, movendo-se de um lado para o outro com grande rapidez. Para cima, para baixo, para o lado, em constante oscilação, ziguezagueante. Parecia que o astro dançava no espaço sideral. Uma ilusão óptica muito divertida causada pelo movimento múltiplo de várias nuvens altas e de uma névoa mais baixa. Uma combinação de movimentos. Curiosa e atraente ilusão reforçada pelo facto de a luz intensa da Lua cheia, um pico de luar, tornar imperceptível a neblina no espaço do círculo lunar. Concentrando o olhar apenas na superfície iluminada do planeta parecia não existir nenhuma interferência de nebulosidade, tal era a nitidez com que se observavam as manchas dos mares lunares e as crateras. Quem me acompanhava pôde vivenciar exactamente a mesma ilusão ou erro perceptivo que se prolongou por pouco mais de dois minutos (tempo da minha observação, o que não significa que a duração total do efeito não tivesse sido maior). Foi então que pensei: se estivesse aqui um vasto conjunto de pessoas, era este o momento propício para lançar nova crença. Seria o milagre da Lua. Com alguma habilidade e talento persuasivo até talvez se conseguisse fundar uma nova religião.
Torno aqui pública esta vivência pessoal porque ela é muito mais do que um mero divertimento casual motivado por uma combinação de movimentos e consequentes ilusões ópticas. Ela é a revelação do mistério do pretenso milagre do Sol, em Fátima (Cova da Iria), no dia 13 de Outubro de 1917. O Sol oscilante, saltitante, ziguezagueante que milhares de pessoas dizem ter observado -- embora muitos dos presentes também afirmassem não terem observado nada de extraordinário nesse dia na Cova da Iria. Pretensos milagres do mesmo tipo foram relatados em outras partes do mundo, como por exemplo em Heroldsbach, na Alemanha, no ano de 1949. Com enorme probabilidade, o que se passou na Cova da Iria (e em outros locais) foi um efeito óptico, uma perturbação perceptiva, uma ilusão de óptica igual ou semelhante à que vivenciei no passado dia 23 de Outubro. Também eu vi um astro aos saltos. Um astro dançante ou ziguezagueante. No meu caso, foi a Lua; para os outros, foi o Sol. Só me faltou a companhia de uma multidão e o empurrão da fé, mesclada com a ignorância da astronomia, para poder ter embarcado numa fantástica experiência místico-religiosa. Inconvenientes do ser-se racionalista possuidor de alguma cultura científica. Não se pode ter tudo.

Aos interessados neste tipo de pretensos milagres, recomendo a leitura da interpretação do Prof.Auguste Meessen do Instituto de Física da Universidade Católica de Lovaina.

sábado, 6 de novembro de 2010

Espanto e indignação

Em dia de manifestação nacional dos trabalhadores da função pública, acção convocada pelos sindicatos, como forma de protesto contra as injustiças sociais e o agravamento das condições de vida resultantes da recente aprovação do que é, na opinião de quase todos, um mau Orçamento do Estado, neste dia de ampla manifestação popular, ligo o meu aparelho de televisão, ao meio-dia em ponto, para ver o noticiário da tarde. Sintonizo, aleatoriamente, o canal RTP-N. Canal público. Qual não é o meu espanto quando verifico que a notícia de abertura não incide sobre o assunto que nesta altura mais preocupa os cidadãos portugueses e que está na origem da manifestação organizada pelos sindicatos do sector da função pública. Mais espantado e estupefacto fico quando constato que a notícia de abertura é sobre a visita do Papa à região espanhola da Galiza. É esse o acontecimento que merece maior destaque de acordo com os critérios editoriais dos jornalistas que chefiam a redacção da RTP-N. A televisão pública do meu Portugal, Estado laico, dá mais relevo a uma visita oficial de um líder religioso, chefe de um Estado oligárquico, a Espanha do que ao sofrimento e à indignação dos nossos trabalhadores, bem como à grave situação social existente na pátria. Aproveite-se para dizer que a visita papal, tão acarinhada pelo editor televisivo, tem sido veementemente contestada por muitos cidadãos do país vizinho que se têm manifestado nas ruas de modo a denunciar, em altura de aguda crise económico-financeira, a irracionalidade dos avultados custos da visita de um oligarca que, para mais, bom será recordá-lo, é pessoa sobre a qual recaem fortes suspeitas (para mais não dizer) de ter sido cúmplice, por via de uma acção de encobrimento, de repugnantes crimes de abuso sexual e pedofilia praticados por altos dignitários da sua santa Igreja. É claro que com os anos que levo de permanência no planeta e nesta sociedade mundana, estas coisas já não me deviam surpreender. Aceito. Mas mesmo que não me espante, jamais abdicarei do meu direito à indignação e a expressá-la publicamente como forma de impedir a aceitação do inaceitável.
E é esta a comunicação social que todos nós temos de pagar?

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

O fim da 2ª República?

Ou muito me engano, ou a nossa segunda República chegou ao fim. Esgotou-se. O momento é de mudança. O deplorável espectáculo parlamentar das últimas horas é disso acrescida demonstração. As irracionalidades, o despautério ético, a desvergonha multiplicam-se. O episódio da errata do Orçamento de Estado, dando conta de um erro tão grosseiro quanto caricato, foi um dos últimos episódios desta saga. O último, que traduz bem o decaimento ético da actividade política, foi o discurso propagandístico do ministro Augusto Santos Silva, em representação do Governo, no encerramento da sessão parlamentar para votação do Orçamento do Estado hoje ao fim da tarde, discurso esse em que chegou ao ponto de declarar que «a acção em prol da saúde financeira do Estado é uma marca do Governo». Será que ouvi bem?
Não se pode aguentar por muito tempo uma situação, como a actual, em que, com justificada razão, o cidadão deixou de ter a mínima confiança nos responsáveis pela governação, bem como pelas próprias instituições que deviam cuidar do país. Do governo aos tribunais, passando pelo parlamento, nada é credível. O cidadão comum olha para os responsáveis políticos com crescente desconfiança, sendo que para muitos, o termo político já é sinónimo de trafulha.
Pedro Passos Coelho, o líder político emergente, não mostra ter percebido que a realidade lhe está a oferecer de bandeja a grande oportunidade de se afirmar como estadista salvador, prestigiado, aglutinador de ampla base social de apoio. Parece que para isso só lhe falta uma coisa: as qualidades. E quais são elas? Que qualidades se exigem ao próximo primeiro-ministro? Classe, decência, elevação moral e intelectual, carisma, talento de líder. Neste momento crucial, já é secundário o ser de esquerda ou de direita; importante, sim, é ser-se de cima e não de baixo. É não pertencer ao grupo dos políticos eticamente indigentes. Isso, sim, é necessário. Urge que apareça alguém capaz de arrumar a casa semeando seriedade, conferindo dimensão ética à acção governativa. Estão criadas as condições para a materialização de um entendimento entre vários sectores políticos tendo em vista a execução de um programa sério de combate à irracionalidade do despesismo público, de incentivo ao aparelho produtivo nacional e de combate à pobreza. Mas, ao que parece, continuamos enleados numa velha dificuldade assinalada pela lucidez queirosiana: a falta de pessoal.