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terça-feira, 24 de março de 2015

Esclarecimento sobre a minha posição política nas eleições presidenciais


Quando hoje entrei no Facebook quase me assustei. Não me passou pela cabeça que o simples gesto de reencaminhar a notícia da sessão de apresentação de uma candidatura pudesse motivar as reacções que aqui vim encontrar. A Helena Pato fala do meu “entusiasmo”. Entusiasmo? Desculpa Lena, mas não me parece que a palavra se aplique. Vou tentar esclarecer tudo. Mas apresso-me já a tranquilizar (espero!) a Irene, a Lena, o Rui Nery, o Rui Andrade, queridas(os) Amigas(os) reais e não apenas virtuais (facebookianos) –, e faço-o com a seguinte declaração solene: sou apoiante inequívoco de outro candidato, pessoa que ainda não anunciou a sua candidatura e cujo nome, apenas por isso, aqui não cito nem devo citar. O Henrique Neto tem conhecimento dessa minha clara escolha política desde a primeira hora. Esse facto, no entanto, julgo eu, não me impede de considerar o Henrique Neto um digno candidato. Convirá não confundir coisas distintas. Uma coisa é considerar que fulano é a pessoa mais indicada para ocupar o cadeirão de Belém; outra, totalmente diferente, é achar que sicrano merece ser candidato embora eu não o apoie. Posso ajudar a viabilizar uma candidatura mas não votar nesse candidato, não participar na sua campanha eleitoral, não subscrever o programa político, etc. Posso ser movido, por exemplo, por uma profunda e sincera amizade pessoal, pela consideração que o sujeito em causa me merece, independentemente da quantidade de divergência política que possa existir num quadro de sã convivência democrática. É que, acreditem, não sou mesmo apologista de candidaturas únicas, filhas do pensamento único. Defendo exactamente o oposto: a riqueza da diversidade. Por isso, na base deste raciocínio lógico, até podia ajudar a noticiar e a concretizar a candidatura de alguém que fosse meu claro adversário político mas simultaneamente meu Amigo, merecendo-me o maior respeito e consideração. Posso estimar um ser humano sem estimar o seu ideário político – quem conheça o meu círculo de amigos, no decorrer da vida, não terá dificuldade de encontrar exemplos demonstrativos desta realidade. No entanto, disso não é exacto exemplo o caso vertente.

Isto nos conduz a outra questão.

Pode ser cegueira minha, mas no contacto pessoal que até hoje tive com o Henrique Neto nunca observei o “direitismo” referido pela Irene e pelo Rui… Como é do conhecimento público, sou, tal como o próprio H.Neto, co-fundador do MDR, movimento cívico que tem como único objectivo alterar a lei eleitoral de modo a pôr fim ao despautério da partidocracia, com listas de candidatos impostos de cima para baixo pelas cúpulas partidárias. Tenho trabalhado com ele no âmbito deste movimento e, na base dessa experiência, só posso considerá-lo um homem de esquerda, mas também uma pessoa séria, integra, que ao longo de toda a vida se movimentou politicamente entre o PCP e a chamada “esquerda do PS”. Recordo que o H.Neto começou a trabalhar aos 14 anos(!) como operário, que pertence a uma família de operários da indústria vidreira da Marinha Grande, foi militante do PCP e já depois, aos 40 anos d idade, tornou-se empresário, criando a bem sucedida Iberomoldes (empresa de dimensão internacional, que foi considerada, no seu sector, uma das principais do mundo). Em vários momentos teve a coragem de denunciar o jogo de interesses no interior da Assembleia da República, actos de corrupção, assim como criticou de forma desassombrada a direcção socratista (recuso-me a escrever socrática) do seu próprio partido. Comportamento incomum que me merece consideração.

Última questão: embora não vá votar H.Neto, nem o vá apoiar na campanha eleitoral, aprecio na sua candidatura o esforço para que a Presidência da República não esteja «condenada a ser uma mera extensão da representação partidária». Além disso, como candidato, H.Neto continuará a bater-se por uma causa que em conjunto abraçámos; a já referida mudança da lei eleitoral. Também reconheço nesta candidatura um esforço de moralização da vida política, de combate à corrupção (elemento incompatível com a democracia autêntica). Uma prioridade absoluta. A relação pessoal e este conjunto de concordâncias farão com que eu esteja presente na sessão da próxima quarta-feira, embora seja apoiante de outra candidatura que em devido tempo virá a ser anunciada.

Terei sido claro? Terei conseguido tranquilizar os Amigos comentadores? Espero que sim.

A todos agradeço os comentários aqui deixados. Agradeço principalmente à Irene, à Lena, aos dois Ruis (Nery e Andrade) porque com as suas palavras me ajudaram a consciencializar os equívocos involuntariamente por mim semeados. Se foram levados a ver, a pensar, a sentir o que aqui expressaram, a responsabilidade (a culpa, como é uso dizer-se em espaço de influência católica) só pode ser minha e de mais ninguém.  

Agora, tenho que o dizer já, é inevitável que depois do aqui afirmado fique a pairar uma tremenda dúvida: será que me vão trucidar quando souberem quem é de facto o meu candidato? Quando ficarem a conhecer quem é a pessoa em quem vou votar, que vou apoiar activamente durante a campanha eleitoral e com quem até já estou a colaborar? Será que vou voltar a desiludi-los? Fiquemos por enquanto neste suspense…

Beijos e abraços!