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segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Um sinal da realidade presente

Começo por uma declaração de interesses: não conheço a SrªGlória Araújo, deputada da Assembleia da República, e até há bem pouco tempo nunca tinha ouvido falar de tal pessoa ou, pelo menos, não tinha retido o seu nome nem memória de nenhum acto por si praticado; não sou membro de nenhum partido político nem contrário à existência de nenhum dos partidos com representação parlamentar; para o que aqui pretendo sinalizar é absolutamente indiferente saber em que bancada do Parlamento se senta a referida Senhora, pelo que omito essa informação.

Pretendo tão só chamar a atenção para uma atitude protagonizada por uma deputada que, a meu ver, é exemplificativa do estado de saúde moral da sociedade em que vivemos. É o assumir de consciência relativamente a esse estado o que aqui verdadeiramente importa, no pressuposto de que esse assumir de consciência é passo necessário, se bem que não suficiente, para se encetar uma acção transformadora no sentido da superação de defeitos comprometedores da saúde do corpo social, da qualidade de vida colectiva.

A deputada Glória Araújo, que integra a Comissão de Ética da assembleia da República, encontrava-se alcoolizada ao volante de um automóvel no dia do seu aniversário, como foi testemunhado pelas autoridades policiais que a autuaram. O facto foi noticiado em toda a comunicação social. Decorrido que está já algum tempo, não consta que a Senhora tenha sido admoestada pelo Parlamento ou pelo Partido, e muito menos que se tenha demitido ou posto o seu lugar à disposição dos responsáveis do seu Partido. Conhecedor destes factos, e usando da sua legítima liberdade, um cidadão resolveu deixar um comentário na página da deputada no Facebook, dizendo que no seu entendimento «havia um preço a pagar para quem, como a deputada, representa o povo português». Segundo o Diário de Notícias (edição de ontem), a deputada respondeu ao cidadão nos seguintes termos:

«Também devia haver um preço para a estupidez e a cretinice. Parece-me é que não consegues pagá-lo. Vai moralizar a tua avó, cretino.”  

Assim falou a representante do povo para o membro do povo no uso da sua liberdade de criticar.

Faço minhas as palavras do jornalista do DN que passo a citar e que encerram a notícia: «ontem, a deputada não fazia anos. E à hora em causa, não teria estado em nenhum bar anteriormente. A resposta é, por tudo isso, ainda mais reveladora».

Será que vai haver alguma reacção oficial do Partido a que a Srª Glória Araújo pertence? Irá a Presidente da AR assumir alguma posição em face deste comportamento? Já passaram dois dias e, até agora, só consegui colher silêncio.

Opus Dei em debate


O Diário de Notícias iniciou ontem (dia 27 de Janeiro) a publicação de um trabalho de investigação jornalística sobre o Opus Dei, organização que cultiva uma concepção do mundo profundamente reaccionária, passadista, insuportavelmente vetusta, mas que não deixa de exercer influência em esferas decisivas no funcionamento da nossa sociedade. Num país quase despido de investigação jornalística, é sempre de louvar o esforço de contrariar essa escassez. Recomendo a leitura deste esclarecedor trabalho, que se prolonga pelas edições do DN de hoje e de amanhã, e lembro que às 11h., daqui a 15 minutos, se vai iniciar um debate que se prevê interessante sobre o Opus Dei e a influência da Igreja Católica na sociedade portuguesa.