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terça-feira, 20 de abril de 2021

George Floyd -- No dia das alegações finais

 

Algumas opiniões que tenho colhido no Facebook sobre a morte do cidadão americano George Floyd dizem bastante mais sobre quem opina do que sobre o que opinam. É como se colocassem um letreiro na testa anunciando orgulhosamente ao mundo: “Eu sou uma má pessoa, sou um ser imoral”. A densidade da sua consciência parece débil, pelo que não chegam a estar conscientes da imagem que divulgam de si próprios através de palavras de ódio, desresponsabilização, insensibilidade, indiferença -- vagueando entre o "é tudo um aproveitamento político" e o "não passa de um lamentável incidente".

Limito-me a um único exemplo concreto, para não incomodar excessivamente e tendo a generosidade de omitir o nome do citado. Perante o registo dramático da morte do ser humano George Floyd (9 minutos e 29 segundos de agonia) um católico, que se indigna com a morte de embriões microscópicos declarando-se “defensor da vida”, escreveu nesta rede social o seguinte:

«Morreu um ladrão e traficante de droga (assassino) e fica tudo a gritar por justiça. Morreu e ainda bem, é menos um a matar os meus Filhos ou Netos».

O esmorecimento do amor à vida está no cerne da capital crise que afecta o mundo: crise cultural. Uma nova vaga de desumanização inunda as nossas sociedades, «niant la juste grandeur de la vie», como escrevia Camus no esforço de achar explicação para os totalitarismos do seu tempo.

Compreensivelmente a indiferença esteve hoje no íntimo das alegações finais do julgamento que decorre em Minneapolis.

João Maria de Freitas Branco
19 de Abril de 2021

sábado, 17 de abril de 2021

UM DEPOIMENTO QUE DEVE SER LIDO

O texto que se segue foi publicado na minha página do Facebook onde se poderá encontrar o depoimento publicado no EXPRESSO. 

Com o passar do tempo foram surgindo pessoas do meu círculo de conhecimentos que adoeceram com a Covid-19. Felizmente quase todos recuperaram. Só um faleceu: o Carlos Antunes. Mas vários passaram por uma singular experiência de sofrimento que os marcou. É o caso do Daniel Sampaio. Mas até agora, de todos eles, só o Daniel nos deixou um sentido e meditativo testemunho público, feito com a lucidez, a sinceridade e a honestidade que o caracterizam. Nessa essência do Eu, a Covid, “doença difusa”, não conseguiu tocar. Mas assusta, e muito, saber-se que podia tê-lo feito de forma devastadora, apagando uma pujante lucidez. Esta é uma de várias lições contidas no depoimento que profundamente me tocou e que por isso agora aqui partilho, ficando à espera do anunciado livro que o completará.

Rápida e completa convalescença, caríssimo Daniel! Resistência e Saúde!

João Maria de Freitas Branco
Caxias, 17 de Abril de 2021

 

quinta-feira, 1 de abril de 2021

Vergonha

 

 Sabíamos que a morte de George Floyd tinha sido horrível e vergonhosamente racista; nas últimas horas, durante a quarta sessão do julgamento em curso, ficámos a saber que tinha sido ainda mais horrível e mais vergonhosamente racista. As novas imagens hoje reveladas em tribunal e o testemunho dos dois paramédicos mostram quão hediondo foi o acto praticado pelo agente Derek Chauvin com a cumplicidade dos seus colegas da polícia de Minneapolis. É impossível não sentir uma enorme revolta.

O julgamento continuará a ser transmitido em directo para o mundo inteiro através da CNN e de outros canais televisivos.  

Que se faça justiça.

João Maria de Freitas Branco 
Caxias,1 de Abril de 2021