Algumas opiniões que tenho colhido no Facebook sobre a morte do cidadão americano George Floyd dizem bastante mais
sobre quem opina do que sobre o que opinam. É como se colocassem um letreiro na
testa anunciando orgulhosamente ao mundo: “Eu sou uma má pessoa, sou um ser
imoral”. A densidade da sua consciência parece débil, pelo que não chegam a estar
conscientes da imagem que divulgam de si próprios através de palavras de ódio,
desresponsabilização, insensibilidade, indiferença -- vagueando entre o "é
tudo um aproveitamento político" e o "não passa de um lamentável
incidente".
Limito-me a um único exemplo concreto,
para não incomodar excessivamente e tendo a generosidade de omitir o nome do
citado. Perante o registo dramático da morte do ser humano George Floyd (9
minutos e 29 segundos de agonia) um católico, que se indigna com a morte de
embriões microscópicos declarando-se “defensor da vida”, escreveu nesta rede
social o seguinte:
«Morreu um ladrão e traficante de droga
(assassino) e fica tudo a gritar por justiça. Morreu e ainda bem, é menos um a
matar os meus Filhos ou Netos».
O esmorecimento do amor à vida está no
cerne da capital crise que afecta o mundo: crise cultural. Uma nova vaga de
desumanização inunda as nossas sociedades, «niant la juste grandeur de la vie»,
como escrevia Camus no esforço de achar explicação para os totalitarismos do seu
tempo.
Compreensivelmente a indiferença esteve
hoje no íntimo das alegações finais do julgamento que decorre em Minneapolis.
João Maria de Freitas Branco
19 de Abril de 2021
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