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terça-feira, 5 de abril de 2016

Derrame de indignidade


Ao longo dos últimos dias a nossa comunicação social esteve inundada de notícias sobre um congresso partidário. O que se viu e ouviu foi confrangedor pelo grau de mediocridade exibido. Um tipo de contribuição, lamentavelmente já banalizada, para o descrédito da política e da forma organizativa institucional denominada partido político. Mas porventura pior ainda foi o que não se viu nem ouviu: o vazio, a total ausência de gesto crítico, de manifesta indignação, o ensurdecedor silêncio dos congressistas perante o intolerável facto de existirem presos políticos em Angola e de o partido reunido em congresso não ter condenado na Assembleia da República, como é dever de qualquer autêntico democrata, o inadmissível e vergonhoso acto punitivo praticado em Luanda por uma justiça partidariamente instrumentalizada. Triste que, mesmo sem congresso, essa mesma indigna inexistência de inequívoca condenação se tivesse podido observar também do lado esquerdo do nosso Parlamento, no seio da família partidária historicamente mais vitimada pela indignidade do acto da detenção política. Incomodativo paradoxo.

Se a estas indignas ausências de protesto democrático em defesa da Liberdade, da Justiça e do progresso civilizacional adicionarmos o arrepiante caso Panama Papers que o EXPRESSO, na sua edição online, tem vindo a revelar nas últimas horas, ficamos com visão bem mais nítida sobre os riscos que corremos e sobre o para onde está a resvalar o nosso mundo.

João Maria de Freitas-Branco
Caxias, 4 de Abril de 2016