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sexta-feira, 16 de julho de 2010

Saramago

José Saramago

"Creo que en la sociedad actual nos falta filosofía. Filosofía como espacio, lugar, método de reflexión, que puede no tener un objetivo concreto, como la ciencia, que avanza para satisfacer objetivos. Nos falta reflexión, pensar, necesitamos el trabajo de pensar, y me parece que, sin ideas, no vamos a ninguna parte."
Foram estas as últimas palavras que a Fundação José Saramago publicou no blog cuaderno.josesaramago.org, onde nos últimos dois anos foi possível acompanhar os textos escritos pelo Nobel da Literatura 1998.
José Saramago despediu-se aos 87 anos, deixando mais de 30 obras publicadas ao longo de 63 anos de carreira.

Irracionalismo pátrio

Uma das maiores irracionalidades lusitanas é a incompletude. Ela está incrustada no quotidiano da nossa sociedade nacional. Eduardo Lourenço definiu Portugal como sendo «o país dos eternos recomeços». Uma pátria onde se esboçam gestos nunca concluídos, em que se ama a superfície e se teme o aprofundamento. Num bom artigo publicado no Expresso Clara Ferreira Alves tem a coragem (porque hoje se correm sérios riscos quando se opina contra o poderio) de alertar para isto a que chamo irracionalismo pátrio. Escreve ela:
«Não admira que num país assim emerjam cavalgaduras, que chegam ao topo, dizendo ter formação, que nunca adquiriram, (Olá! camaradas Sócrates...Olá! Armando Vara...), que usem dinheiros públicos (fortunas escandalosas) para se promoverem pessoalmente face a um público acrítico, burro e embrutecido. […] A justiça portuguesa não é apenas cega. É surda, muda, coxa e marreca.
Portugal tem um défice de responsabilidade civil, criminal e moral muito maior do que o seu défice financeiro, e nenhum português se preocupa com isso, apesar de pagar os custos da morosidade, do secretismo, do encobrimento, do compadrio e da corrupção.
Os portugueses, na sua infinita e pacata desordem existencial, acham tudo "normal" e encolhem os ombros.
Por uma vez gostava que em Portugal alguma coisa tivesse um fim, ponto final, assunto arrumado.
Não se fala mais nisso. Vivemos no país mais inconclusivo do mundo, em permanente agitação sobre tudo e sem concluir nada.
Nunca saberemos a verdade sobre o caso Casa Pia, nem saberemos quem eram as redes e os "senhores importantes" que abusaram, abusam e abusarão de crianças em Portugal, sejam rapazes ou raparigas, visto que os abusos sobre meninas ficaram sempre na sombra.
Existe em Portugal uma camada subterrânea de segredos e injustiças, de protecções e lavagens, de corporações e famílias, de eminências e reputações, de dinheiros e negociações que impede a escavação da verdade.
Este é o maior fracasso da democracia portuguesa
Clara Ferreira Alves - "Expresso"