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sábado, 14 de maio de 2022

Perigoso contentamento

 

Perigoso contentamento

 

Nas últimas 48 horas temos assistido a infindáveis manifestações de contentamento pelo facto de a Finlândia e a Suécia pretenderem aderir à NATO (responsáveis políticos ocidentais, comentadores, jornalistas, em coro afinado). Há poucas horas, o Partido Social-Democrata da Finlândia, a que pertence a primeira-ministra finlandesa Sanna Marin, anunciou com entusiasmo o seu amplo apoio à candidatura do país à NATO (os 60 membros da direcção partidária votaram por larga maioria favoravelmente à candidatura: 53 votos a favor e apenas 5 votos contra).

Não consigo acompanhar esta satisfação generalizada.

Alguns vão ficar horrorizados, sei bem; mas não deixo de declarar abertamente que, neste particular, concordo com a opinião de Putin, o tirano neofascista e imperialista que delineou cuidadosamente um plano de combate contra a civilização ocidental (em processo de decadência) e em defesa da revitalização da Rússia imperial. É um “erro”. Foi a curta resposta telefónica de Putin ao presidente finlandês, Sauli Niinistö, há poucas horas.

Se muito não erro, a decisão anunciada representa um passo na direcção errada. Em vez de um esforço da atenuação da conflitualidade ameaçadora da paz mundial, representa a passagem para um patamar de maior conflitualidade. Militariza-se a diplomacia coerciva. Alimenta-se a fornalha bélica.

Posso estar enganado, como sempre, mas a decisão da Finlândia parece-me favorecer os interesses do governo de Moscovo. Fornece os ingredientes essenciais ao processo de mobilização global da Mãe Pátria, da grande Pátria russa. É o que Putin precisa.

Os servidores da tirania russa não perderam tempo. Há pouco mais de duas horas Serguei Lavrov afirmou numa conferência de imprensa:

                                    «O Ocidente declarou a guerra total à Rússia».

Recomendo que se escute com muita atenção o teor completo das declarações do ministro dos negócios estrangeiros, Serguei Lavrov, em que este também refere a organização deliberada da “russofobia” (conferência de imprensa de hoje, 14 de Maio de 2022).

Os dirigentes políticos ocidentais não mostram estar à altura dos acontecimentos históricos em curso e continuam a brincar com o fogo. Talvez convenha não esquecer que a falta de qualidade dos líderes políticos foi uma das causas da I Guerra Mundial.

João Maria de Freitas Branco
Caxias, 14 de Maio de 2022