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terça-feira, 3 de novembro de 2020

Uma eleição americana

Dia de eleições nos EUA. Eleições diferentes do habitual, porque desta vez é a própria democracia que está em jogo. Todos, à esquerda, à direita, ao centro, estão de acordo relativamente à singular relevância deste acto eleitoral. O seu resultado terá impacto mundial.

Leio o seguinte num site da direita cristã, dirigido à comunidade ibero-americana:

«Donald Trump se ha convertido en el último bastión en defensa de la Civilización Judeo-Cristiana. […] Nunca en la historia de EEUU había existido tal diferencia entre los programas de los dos candidatos, ya que el programa de cada uno no se reduce únicamente a la divergencia en propuestas concretas, sino a la propia concepción, bien distinta, de la civilización occidental.

El Partido Republicano de Donald Trump se ha convertido en el último resorte de la defensa del pensamiento occidental cristiano, con un programa centrado en la protección de la vida, la familia, la libertad y la propiedad privada.»

Brien Burch, um líder cristão estadunidense, presidente da organização CV-Catholicvote, também tem apelado ao voto em Trump.

Pensava que a mentira, a difamação, o racismo, o ódio, o apelo à violência, o assédio sexual, o acto de desunir os seres humanos, a defesa do uso de armas de fogo, etc., eram coisas contrárias aos princípios do cristianismo e que por isso um autêntico cristão teria dificuldade em simpatizar com um sujeito como Donald Trump. Mas vejo não ser essa a opinião destes militantes cristãos. No entanto, há quem os contrarie inequivocamente a partir do centro da Igreja Católica. Leiam-se estas linhas retiradas de um escrito recentemente publicado e que me soam bastante mais cristãs:

«Usa-se hoje, em muitos países, o mecanismo político de exasperar, exacerbar e polarizar. Com várias modalidades, nega-se a outros o direito de existir e pensar e, para isso, recorre-se à estratégia de ridicularizá-los, insinuar suspeitas sobre eles e reprimi-los. Não se acolhe a sua parte da verdade, os seus valores, e assim a sociedade empobrece-se e acaba reduzida à prepotência do mais forte. […] Nesta luta de interesses que nos coloca a todos contra todos, onde vencer se torna sinónimo de destruir, como se pode levantar a cabeça para reconhecer o vizinho ou ficar ao lado de quem está caído na estrada? Precisamos de nos construir como um “nós” que habita a casa comum.» Papa Francisco, Carta Encíclica “Fratelli Tutti”, p.15.

Fica uma certeza: este cristão católico, que até é Papa, jamais votaria numa criatura como Donald. Já me sinto mais “católico”… Quantos outros Franciscos estarão agora a votar nos EUA contra a obscenidade política?

João Maria de Freitas Branco

3 de Novembro de 2020

 

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