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quinta-feira, 5 de novembro de 2020

EUA: início do golpe

 

A última comunicação de Donald Trump, feita por volta das 19h (hora local, meia-noite em Portugal) corresponde ao que eu esperava que acontecesse e, à primeira vista, parece não conter nenhuma novidade. Mas não é verdade. Trata-se de uma comunicação importantíssima e gravíssima que representa um novo passo: o que inaugura um golpe perpetrado a partir da Casa Branca (leia-se o que escrevi no jornal PÚBLICO, edição de 29 de Outubro).

Assistimos há poucas horas a um acontecimento que ficará inscrito na História: às 19h do dia 5 de Novembro de 2020 Donald Trump declarou publica e inequivocamente ser inimigo da democracia e pretender anular as eleições, gesto que abre caminho à completa destruição da democracia na América. Ficou claro que só aceita resultados eleitorais que lhe sejam favoráveis. O passo seguinte vai ser a convocação de manifestações e um apelo explícito à intervenção das milícias armadas que o apoiam. Vai assim tentar criar o caos nas ruas das principais cidades do país para depois poder declarar uma situação de excepção que inviabilize a transição de poder, anulando assim a eleição, a expressão da vontade popular, elemento basilar do Estado de direito democrático.

No momento em que redijo estas linhas tudo indica que Joe Biden vai vencer as eleições. O anúncio dessa vitória talvez ocorra já nas próximas horas, caso o resultado final na Pennsylvania lhe seja favorável. Há muita gente a pensar que isso colocará um ponto final neste processo. Que a partir desse anúncio da obtenção dos 270 votos no Colégio Eleitoral Trump está definitivamente derrotado. Enganam-se. Isso não passa de optimismo ilusório. A tentativa de golpe já em curso vai continuar.

Sei que alguns vão considerar o que aqui afirmo um exemplo de pessimismo alarmista, numa altura em que a derrota eleitoral de Donald Trump parece ser já uma certeza. Mas infelizmente não creio que seja o caso. Não pretendo de forma alguma ser alarmista. Apenas lanço um alerta: não se deixem iludir com a vitória eleitoral de Biden. Isso não vai fazer com que Trump desista. Ele (com o apoio dos seus aliados) já deu início ao golpe e não vai recuar por iniciativa própria. A vitória eleitoral de Biden vai ter que ser reforçada pela vitalidade das instituições democráticas, a começar pelos tribunais (estaduais e federais), e vai necessitar também de amplo apoio popular na rua, como forma de resistência ao golpe antidemocrático em curso.

Chegou o momento da verdade para a direcção do Partido Republicano: vai ela assumir a defesa da democracia ou vai ser cúmplice de um golpe instaurador de um regime autocrático nos EUA?

Já passaram mais de quatro horas e ainda só ouvi silêncio institucional (nenhum comunicado oficial do Partido, nenhuma intervenção formal em nome da direcção partidária), embora alguns republicanos já tenham repudiado pessoalmente a inacreditável comunicação presidencial.  

O que se está a passar nos EUA é o acontecimento político mais importante da actualidade no plano mundial. O que acontecer nos EUA nas próximas horas, dias ou meses irá ter repercussão planetária. A comunidade internacional não pode permanecer em silêncio. A União Europeia e países como nosso têm que reagir de alguma maneira ao discurso golpista de Donald Trump.

Foi iniciado, a partir da Casa Branca, um golpe contra a democracia. Ele foi publicamente anunciado pelo próprio presidente dos EUA às 19h do dia 5 de Novembro.

A Liberdade está debaixo de ataque. É preciso resistir!

João Maria de Freitas Branco

Às 4h:30 do dia 6 de Novembro de 2020

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