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segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

Em homenagem às Mulheres

 

Pretendo dar a conhecer um imerecidamente olvidado escrito feminista, muito actual, que por inteiro traduz o meu próprio pensamento sobre as injustas desigualdades que vitimaram e vitimam os seres humanos do sexo feminino.

Como o ideário feminista é aqui servido por notável forma literária, não me atrevo a traduzir, preferindo deixar intocado o estupendo francês original (sendo o eventual recurso à tradução do Dr.Google, ou outro, liberdade deixada ao leitor amigo). 

Eis o texto que julgo merecedor da vossa boa atenção:

«Bienheureux es-tu, lecteur, si tu n’es point de ce sexe qu’un interdit de tous les biens, le privant de la liberté : oui même, qu’on interdit encore à peu près de toutes les vertus, lui soustrayant les charges, les offices et fonction publiques ; en un mot, lui retranchant le pouvoir, en la modération duquel la plupart des vertus se forment, afin de lui constituer pour seule félicité, pour vertus souveraines et seules, l’ignorance, la servitude et la faculté de faire le sot si ce jeu lui plaît.»  

Abunda o hábito de se considerar que certas ideias e atitudes em voga neste nosso presente são manifestações de uma originalidade absoluta e, por isso, apenas representativas da nossa época. No entanto, esta actualíssima e moderníssima declaração feminista não é da autoria de nenhuma militante do movimento Me Too, nem foi redigida hoje, nem ontem, nem na semana passada no rescaldo de alguma renovado acometimento machista. Não. Trata-se de texto escrito e publicado por uma mulher na primeira metade do século XVII, mais precisamente no ano de 1626. Marie de Gournay é o nome da autora que por ironia do destino só é conhecida por ter conhecido um ser humano do sexo masculino; ou melhor, por ter sido amiga de um homem célebre: Michel Eyquem de Montaigne.

 

NOTA

Referência bibliográfica: Marie de Gournay, “Grif des dames”, em Égalité des hommes et des femmes et autres textes, Gallimard, Paris, 2018. (Por opção do editor, a língua foi modernizada em favor do melhor entendimento por parte do leitor actual.)

João Maria de Freitas Branco
8 de Fevereiro de 2021


 

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