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quinta-feira, 11 de abril de 2019

Para uma reflexão


No seguimento do texto publicado ontem no Facebook e aqui no blog RAZÃO dou agora conhecimento de um episódio ocorrido na comunicação social francesa e que me parece merecedor de alguma reflexão.

Durante um telejornal ontem difundido, um jornalista do canal televisivo France2 entrevistou uma jovem astrofísica expressamente convidada para comentar o extraordinário acontecimento científico que marcou o dia – a captação pelo Event Horizon Telescope (EHT) da primeira imagem real de um buraco negro – e no final da entrevista perguntou à cientista se o buraco negro agora avistado não constituía um risco para os seres humanos, bem como para o nosso planeta Terra. A astrofísica conseguiu conter-se e respondeu mantendo uma expressão de seriedade. Mas ficámos a saber que um jornalista internacional de um grande canal de televisão pode não fazer a menor ideia do que é a distância que nos separa da galáxia Messier 87 (geralmente referida abreviadamente como M87, mas também conhecida por Virgo A ou NGC 4486). Situado no núcleo desta galáxia supergigante, o buraco negro está a uma distância de 53 milhões de anos-luz (55 milhões segundo o comunicado ontem publicado no site do EHT). Trata-se de facto de um buraco negro colossal que ainda há bem pouco tempo se supunha não poder existir no Cosmos. A realidade revela-se continuamente mais rica do que a nossa melhor imaginação… Mas mesmo tendo essa incrível dimensão (um diâmetro de 38 biliões de quilómetros e uma massa correspondente à de 6.5 biliões de estrelas como o Sol), não deixa de ser uma coisa muito pequenina se comparada com o espaço intergaláctico entre a nossa Via Láctea e a M87. Além disso, a imagem captada representa o buraco negro central da M87 tal como ele era há 53 milhões de anos ou mais. É uma realidade do passado e não do presente. Sendo que se pudessem existir efeitos nocivos graves projectados a tão grande distância eles, obviamente, chegariam também, na melhor das hipóteses, com esse mesmo atraso de 53 milhões de anos. A questão é ser também absurdo supor que o facto da captação da imagem ia desencadear subitamente, como que por acto de pura magia, efeitos ameaçadores. A luz proveniente do horizonte de eventos do buraco negro, naquela zona central da distante galáxia elíptica M87, há muito que está a banhar o nosso Planeta, mas só agora foi captada por extraordinário mérito da Ciência e da Técnica.

Se um jornalista internacional de um destacado canal francês de televisão exibe tão grande ignorância sobre o Universo em que vivemos, como é que a notícia científica terá sido recepcionada pela generalidade dos seres humanos? Não duvido que haja neste momento na Internet muitas vozes a dizer que a imagem divulgada é a do gigantesco olho negro de uma entidade sobrenatural mefistofélica que nos está a vigiar com o objectivo de destruir a Terra e os seus humanos habitantes. Ou então que é o olho do Deus redentor. E até talvez haja quem faça uma leitura maçónica da imagem cósmica, atribuindo-lhe uma simbologia secreta inscrita nos confins do Universo e pairando desde o início do tempo.

Algo parece estar a falhar na Escola, principalmente nos países que estão no topo da civilização, como é o caso da França. Como sempre, convém reflectirmos com profundidade, fazendo bom uso da Razão.

João Maria de Freitas-Branco
Caxias, 11 de Abril de 2019

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