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segunda-feira, 31 de outubro de 2016

TMIE


SOBRE A ÓPERA

“TMIE”

de

Carlos Alberto Augusto

 

Sendo o fenómeno ópera uma reunião de todas as Artes, é, a meu ver, sob a égide de uma única delas, a dos sons, que esse encontro se estrutura. Mas no imediato TMIE parece querer recusar ou até negar esse primado. TMIE funciona como catalisador pedagógico, despertando curiosidade/interesse no espectador receptor e levando-o à exploração cognitiva de domínios extramusicais: o da medicina, o da fisiologia, o da astronomia, o da história da ciência, o da filosofia. Nesse gesto de condução, a arte dos sons parece ir sendo secundarizada. No entanto, a sonância nunca deixa de estar presente, sendo uma espécie de personagem ubíqua, ressurgindo continuamente, ora como sonoridade fisiológica (o gene, a recuperação da faculdade auditiva de Beverly Biderman e o seu particular ouvir), ora como enunciação da harmonia interestelar (nas observações científicas de Henrietta Leavitt), ou ainda como expressão canora do ideário do filósofo pré-socrático (mas também fisiologista) Empédocles sobre o sentido da audição. Uma récita de TMIE convida à pesquisa. É assim, na sua genuína dimensão artística, um singular instrumento pedagógico.

João Maria de Freitas-Branco

Lisboa, 24 de Outubro de 2016

 

 

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