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segunda-feira, 17 de maio de 2010

Crentes e não crentes

Depois da estada em território nacional do Sr. Joseph Ratzinger e do deplorável comportamento do Estado Português, violando princípios básicos do laicismo consignados na Constituição, e também em face do histerismo católico exibido pela generalidade dos órgãos de comunicação social (privados e públicos), talvez convenha recordar, ou dar a conhecer, que a religiosidade estribada na crença em um deus pessoal e associada às principais instituições da fé, como a Igreja Católica Apostólica Romana, tem cada vez menos aderentes. Contrariamente ao que o histerismo da comunicação social faz crer, nunca na história da humanidade houve tantos ateus. Há locais em que o seu número cresce de dia para dia. Em vários dos principais países desta nossa Europa a maioria da população já não acredita em deuses pessoais, omnipotentes e omniscientes. É, por exemplo, o caso da Suécia, da Dinamarca ou da República Checa. Quanto maior o nível de informação e conhecimento menor é a crença. Como escreveu Phil Zuckerman num ensaio publicado em 2007, «Between 500 million and 750 million humans currently do not believe in God. […] High levels of organic atheism are strongly correlated with high levels of societal health, such as low poverty rates and strong gender equality. In many societies atheism is growing» («Entre 500 milhões e 750 milhões de seres humanos não acreditam actualmente em Deus. […] Os níveis elevados de ateísmo orgânico correlacionam-se fortemente com níveis elevados de saúde social, como taxas de pobreza baixas e forte igualdade sexual. O ateísmo está em crescimento em muitas sociedades»). A fé em divindades pessoais só continua a prosperar em regiões do Planeta com níveis baixos de escolaridade, em que o conhecimento científico é pouco e mal divulgado. Algo que devia merecer atenção reflexiva e crítica. Na maior parte do continente africano ou na Ásia o ateísmo não tem expressão. Acontece, porém, ser precisamente nessas regiões que se assiste presentemente a um significativo crescimento demográfico, enquanto nos países com maior cultura científica há uma estagnação demográfica ou até mesmo, em alguns casos, um decréscimo. Em consequência deste facto, verifica-se haver, a nível global, um aumento do número de seres humanos que declaram sentir o apelo do transcendente. Mas até mesmo em regiões com índices de cultura científica mais baixos, em países como a Índia, a China, o Paquistão e em Estados religiosos islâmicos, tem-se verificado um decréscimo da influência das principais instituições religiosas.
Para mais informação, recomenda-se a leitura do ensaio que aqui foi citado: Phil Zuckerman, “Atheism - contemporary numbers and patterns”, em Michael Martin (Ed.): The Cambridge companion to atheism, Cambridge University Press, Cambridge, 2007, pp.47-65. Esta obra acaba de ser editada em língua portuguesa: Edições70, colecção “O saber da Filosofia”. Tradução de Desidério Murcho. Título da edição portuguesa. Um mundo sem Deus. Ensaios sobre o ateísmo.

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