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quarta-feira, 21 de outubro de 2020

PENSAR -- UMA FORMA DE HOMENAGEAR PATY

 

A horrorosa morte do professor Samuel Paty tem um enorme valor simbólico. Depois de ler e escutar algumas opiniões, nomeadamente as expressas no Facebook, em trocas argumentativas mais ou menos inflamadas, desejo trazer à colação alguns factos e propor um exercício de reflexão, esperando assim poder concorrer para o enriquecimento do debate, bem como para a dilucidação de algumas graves questões relacionadas com o acto terrorista e que tanto agitam o ambiente, em Portugal e no mundo.

Como primeiro contributo para a discussão, deixo aqui a memória de um acontecimento histórico esquecido e até intencionalmente ocultado. No dia 17 de Outubro de 1961, em pleno centro de Paris, a polícia francesa matou um elevado número de pessoas que participavam numa manifestação de argelinos, manifestação pacífica organizada pela federação de França do FNL (Front de Libération Nationale). Muitos dos manifestantes foram lançados pelos polícias para as águas do rio Sena a partir da ponte Saint Michel e de outras pontes do centro da cidade. A operação policial repressiva foi ordenada e comandada pelo então chefe da polícia de Paris, Maurice Papon, um criminoso de guerra (do período da ocupação nazi). Ainda hoje se desconhece o número exacto de vítimas mortais. Algumas estimativas apontam para 150/200 mortos. Não pensei que me enganei na data e no local. Não. Não foi no ano de 1261, nem outro qualquer 61 anterior ao século XX. Nem foi em nenhuma capital de uma república das bananas. Foi em Paris, capital de França e do Iluminismo, no ano de 1961, há apenas cinquenta e nove anos. E em 2011, por ocasião do 50º aniversário, o então presidente da República Francesa, Nikolas Sarkosy, impediu que se realizasse uma cerimónia oficial evocativa do massacre.

Para além desta memória quase apagada, recomendo que pensem numa violência bem mais recente: o assassinato de dois manifestantes em Agosto último, no Wisconsin, e perpetrado por um jovem de 17 anos, militante de extrema-direita, que percorreu muitos quilómetros para ir estabelecer a “lei e ordem” propugnada por Donald Trump. Vêem alguma semelhança entre o imã extremista que através das redes sociais instigou à violência (fazendo com que um jovem de 18 anos saísse de casa para decapitar um professor que não conhecia e que vivia a cerca de cem quilómetros de distância) e o presidente Trump? Se virem, é capaz de não ser pura coincidência. Sugiro um exercício: elaborem a listagem dos ideais e dos principais princípios programáticos do islamismo radical e do trumpismo; concluída a compilação, comparem os respectivos conteúdos listados.

Pensem bem!  

João Maria de Freitas Branco

Caxias, 21 de Outubro de 2020

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