Nos cartazes erguidos na manifestação de hoje à tarde em
frente da Assembleia da República, onde agora decorre o debate sobre os
projectos de despenalização da eutanásia, podiam-se ler frases como: «não matem
os velhinhos», «quem somos nós para matar?», «não à cultura de morte», «fé na
vida», «quero cuidados paliativos», «eu sou pela vida». Estas frases são magnífico
exemplo daquilo a que costumo chamar discurso da confusão (ou seja, um discurso
que contribui para aumentar o estado de confusão, para ampliar o ruído) e, por
isso mesmo, são também afirmações bem demonstrativas dos motivos que
desaconselham a realização de um referendo sobre a eutanásia. Em grande parte,
as recentes intervenções públicas contra a despenalização da eutanásia concorreram,
voluntaria ou involuntariamente, para semear a confusão. Nenhum dos opositores
à despenalização da eutanásia conseguiu responder ao problema existencial da “cabeça
sem corpo” trazido ao debate internacional sobre a eutanásia e o suicídio
assistido pelo tetraplégico espanhol Ramón Sampedro. Espero que em Portugal,
muito em breve, os Ramóns passem a ter plena liberdade para poderem decidir pôr
termo ao seu sofrimento.
João Maria de Freitas Branco
Caxias, 20 de Fevereiro de 2020
Caxias, 20 de Fevereiro de 2020
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