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terça-feira, 5 de janeiro de 2021

A propósito de um texto sobre os EUA


 Por vários motivos, os portugueses conhecem mal a autêntica realidade “da maior democracia do mundo”, como dizem em tom de deslumbramento muitos dos nossos políticos, comentadores e jornalistas. Comecei a descobrir essa maravilhosa democracia da desigualdade capitalista quando tive, no final dos anos sessenta do século passado, o primeiro contacto directo com os EUA. Fique nessa altura convencido de que aquela sociedade de excessos e de revoltante e injustiça social iria implodir no espaço de uma ou duas décadas. Enganei-me completamente. Mas mais do que a essa observação in loco, é à pessoa de Ernesto Guerra da Cal, que conheci alguns anos mais tarde, já na década de 70, num certo círculo queirosiano (mas infelizmente, para meu grande prejuízo, em contactos muito pontuais), é a ele, Guerra da Cal, que devo o primeiro conhecimento mais profundo do horror dessa “maravilhosa democracia americana”. Há histórias por ele relatadas que nunca mais esqueci, como p.e. a de uma chamada de urgência para os bombeiros, motivada por um incêndio num prédio fazendo perigar a vida de uma ou mais crianças, e em que o socorro só apareceu horas depois da chamada para o 911. Os bombeiros tinham-se “enganado” na morada… porque era um bairro de negros! Ernesto da Cal garantia que este comportamento ignóbil era a regra, e logo adicionava outras histórias, outros factos por si próprio presenciados em New York. A memória desses relatos foi-me sendo avivada por um saudoso amigo, Luís dos Santos Ferro, que, esse sim, longamente privou com Guerra da Cal, principalmente quando o filólogo escritor decidiu tocar a América pelo Estoril. Para os que não se lembrem ou não saibam, Guerra da Cal, amigo de García Lorca, teve a sorte de estar em New York quando ocorreu a derrota da República espanhola, pela qual lutara de arma na mão, e isso fez com que tivesse ficado exilado nos EUA durante longos anos.

Sinto, ao escrever estas breves linhas, o desgosto de não ter tentado contactar Guerra da Cal nos últimos anos da sua vida, depois do meu regresso a Portugal, no início dos anos 90, pois creio que teria sido fácil estabelecer esse contacto através do bom amigo comum, o queirosiano Luís dos Santos Ferro (falecido há um ano, em Janeiro de 2020) que se considerava um irmão mais novo (muitíssimo mais novo) de meu Pai e com quem era sempre agradável e enriquecedor conversar – éramos todos fanáticos cultores do conversar, essa prática que tem vindo a cair em desuso e que agora também está asfixiada pela pandemia que nos atormenta.

O texto “10 Factos chocantes sobre os EUA” que agora aqui partilho chegou-me através do meu querido amigo António Gomes Marques, mas desconheço (ou suponho desconhecer) o autor: António Santos. Não tenho motivos para desconfiar da veracidade dos dez factos relatados. Muitos eram já do meu conhecimento.

João Maria de Freitas Branco
Caxias, 5 de Janeiro de 2021

 

 10 FACTOS CHOCANTES SOBRE OS EUA

Texto de António Santos

1. Os Estados Unidos têm a maior população prisional do mundo, compondo menos de 5% da humanidade e mais de 25% da humanidade presa. Em cada 100 americanos um está preso. A subir em flecha desde os anos 80, a surreal taxa de encarceramento dos EUA é um negócio e um instrumento de controlo social: à medida que o negócio das prisões privadas alastra, uma nova categoria de milionários consolida o seu poder político. Os donos destes cárceres são também donos dos escravos que trabalham em fábricas dentro da prisão por salários inferiores a 50 cêntimos por hora. Uma mão-de-obra tão competitiva que muitos municípios hoje sobrevivem financeiramente das suas prisões camarárias e graças a leis que vulgarizam sentenças até 15 anos de prisão por crimes como roubar pastilha elástica. Os alvos destas leis são invariavelmente os mais pobres, mas sobretudo os negros, que representando apenas 13% da população americana, compõem 40% da população prisional do país.

2. 22% das crianças americanas vivem abaixo do limiar da pobreza. Calcula-se que cerca de 16 milhões de crianças americanas vivam sem «segurança alimentar», ou seja, em famílias sem capacidade económica para satisfazer os requisitos nutricionais mínimos de uma dieta saudável. As estatísticas provam que estas crianças têm piores resultados escolares, aceitam piores empregos, não frequentam a universidade e têm uma maior probabilidade de, quando adultos, serem presos.

3. Entre 1890 e 2014 os EUA invadiram ou bombardearam 151 países.

São mais os países do mundo em que os EUA já intervieram militarmente do que aqueles em que ainda não o fizeram. Números conservadores apontam para mais de oito milhões de mortes causadas pelas guerras imperiais dos EUA só no século XX. E por detrás desta lista escondem-se centenas de outras operações secretas, golpes de estado e patrocínios a ditadores e grupos terroristas. Segundo Obama, laureado do Nobel da Paz, os EUA têm neste momento mais de 70 operações militares secretas a decorrer em vários países do mundo. O mesmo presidente criou o maior orçamento militar de qualquer país do mundo desde a Segunda Guerra Mundial, batendo de longe George W. Bush.

4. Os EUA são o único país da OCDE sem direito a qualquer tipo de subsídio de maternidade.

Embora estes números variem de acordo com o Estado e dependam dos contratos redigidos pela empresa, é prática corrente que as mulheres americanas não tenham direito a nenhum dia pago antes nem depois de dar à luz. Em muitos casos, não existe sequer a possibilidade de tirar baixa sem vencimento. Quase todos os países do mundo contemplam entre 12 e 50 semanas pagas em licença de maternidade. Os Estados Unidos fazem companhia à Papua Nova Guiné e à Suazilândia com zero semanas.

5. 125 americanos morrem todos os dias por não poderem pagar o acesso à saúde.

Quem não tiver seguro de saúde (como 50 milhões de americanos não têm) tem boas razões para recear mais a ambulância do que o inocente ataque cardíaco. Com viagens de ambulância a custarem em média 500 euros, a estadia num hospital público mais de 200 euros por noite e a maioria das operações cirúrgicas situadas nas dezenas de milhares, é bom que se possa pagar um seguro de saúde privado.

6. Os EUA foram fundados sobre o genocídio de 10 milhões de nativos. Só entre 1940 e 1980, 40% de todas as mulheres em reservas índias foram esterilizadas contra sua vontade pelo governo.

Esqueça a história do Dia de Acção de Graças, com índios e colonos a partilhar pacatamente um peru. A história dos EUA começa no programa de erradicação dos índios: durante dois séculos, os nativos foram perseguidos e assassinados, despojados de tudo e empurrados para minúsculas reservas de terras inférteis, em lixeiras nucleares e sobre solos contaminados. Em pleno século XX, os EUA puseram em marcha um plano de esterilização forçada das mulheres nativas, pedindo-lhes para assinarem formulários escritos numa língua que não compreendiam, ameaçando-as com o corte de subsídios ou, simplesmente, cortando-lhes o acesso à saúde.

7. Todos os imigrantes são obrigados a jurar não serem comunistas para poderem viver nos EUA.

Para além de ter que jurar que não é um agente secreto nem um criminoso de guerra nazi, vão-lhe perguntar se é ou alguma vez foi membro do «Partido Comunista», ou se defende intelectualmente alguma organização considerada «terrorista». Se responder que sim a qualquer destas perguntas, pode ser-lhe negado o direito de viver e trabalhar nos EUA por «prova de fraco carácter moral».

8. O preço médio de uma licenciatura numa universidade pública é 80 000 dólares.

O Ensino Superior é uma autêntica mina de ouro para os banqueiros. Virtualmente todos os estudantes têm dívidas astronómicas que, acrescidas de juros, levarão em média 15 anos a pagar. Durante esse período, os alunos tornam-se servos dos bancos e das suas dívidas, sendo amiúde forçados a contrair novos empréstimos para pagar os antigos. Entre 1999 e 2014, a dívida total dos estudantes estado-unidenses ascendeu a 1.5 triliões de dólares, subindo uns assustadores 500%.
 9. Os EUA são o país do mundo com mais armas: para cada 10 americanos, há nove armas de fogo.

Não é de espantar que os EUA levem o primeiro lugar na lista dos países com a maior colecção de armas. O que surpreende é a comparação com o resto do mundo: no resto do planeta há uma arma para cada 10 pessoas. Nos Estados Unidos, nove para cada 10. Nos EUA podemos encontrar 5% de toda a humanidade e 30% de todas as armas, qualquer coisa como 275 milhões.

10. São mais os americanos que acreditam no Diabo do que aqueles que acreditam em Darwin.

A maioria dos americanos é céptica, pelo menos no que toca à teoria da evolução, em que apenas 40% da população acredita. Já a existência de Satanás e do inferno soa perfeitamente plausível a mais de 60% dos americanos. Esta radicalidade religiosa explica as «conversas diárias» do ex-presidente Bush com Deus e mesmo as inesgotáveis diatribes sobre a natureza teológica da fé de Obama.

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