Neste actual período natalício,
escolhido pelo Papa Francisco para endereçar uma duríssima censura à hierarquia
da sua Igreja, não resisto à vontade de deixar aqui um brevíssimo comentário
que é também desabafo: verifico, não sem algum orgulho, que o Papa me vem agora
dar razão em muito do que publicamente afirmei sobre o estado de saúde da
Igreja Católica. Seja-me permitido recordar em particular o artigo de opinião
que publiquei em Março deste ano (2014), sob o título “Eleição papal: um
convite à meditação “, e que suscitou a discordância de alguns leitores católicos
que nele viram a mera expressão da oposição ateísta. Afinal, se quisermos
acreditar na autorizada voz papal, a minha crítica pecava por defeito. As “doenças”
(termo papal) não só existem como são ainda mais numerosas. São 15! Não é o
ateu João que o diz, mas sim o católico Francisco, chefe da Igreja, líder do
Estado religioso do Vaticano. Interrogo-me sobre qual será agora a opinião desses
católicos sobre o meu texto. Que leituras dele fazem, neste momento, depois do
último discurso do Papa contra os pecados da hierarquia católica? Mantêm as
anteriores reticências? Esse meu artigo de opinião terminava com as seguintes
palavras:
Desejoso de ver a Igreja Católica expurgada de pecados, deposito aqui os
meus mais sinceros votos de que o novo Papa e a Cúria renovada consigam
edificar uma religiosidade genuína, despida de bullshits, para usar o termo que o filósofo americano Harry
Frankfurt trouxe para o léxico filosófico. Uma religiosidade favorecedora da
elevação, da honestidade intelectual e da matura acção civilizatória. É este o franco
e são desejo deste confesso ateu religioso. (Jornal “Público”, edição de 13
de Março de 2013, p.47; também ode ser integralmente lido online, em razaojmfb.blogspot.pt ).
Talvez o ano de 2015 traga boas
novidades no sentido da satisfação deste desejo. Se o Papa Francisco tiver suficiente
força, engenho e arte, talvez o novo ano abra caminho para o Novo Concílio e promova,
como diz o teólogo católico Javier Monserrat, «a saída do mundo antigo e a
entrada no mundo moderno», «uma mudança hermenêutica necessária para o
cristianismo». O futuro do cristianismo e da sua forma institucionalizada
dependerá da capacidade de abandonar a cultura dogmática.
Natal de 2014
Blog RAZÃO – razaojmfb.blogspot.pt
Sem comentários:
Enviar um comentário