O breve texto/depoimento sobre o fim do Muro de Berlim que
agora aqui publico foi-me solicitado pelo jornal “I” para ser incluído na sua
edição de ontem – uma vez que o jornal não se publica nos Domingos. A dimensão
do texto resulta dos habituais constrangimentos editoriais. Aqui fica, no dia
de hoje, dia de aniversário, para todos os que
se interessem pelo tema. Mais tarde, apresentarei um esclarecimento
complementar.
25 ANOS DEPOIS
Erguer fronteiras que dividam os humanos, gerando isolamentos,
é gesto indesejável que serve a dependência em detrimento da autonomia.
A queda do Muro que verdadeiramente começou a ser construído
em 1949, com a criação da RFA pelos aliados ocidentais, e não no dia da
colocação da primeira pedra – facto deixado na sombra da história de modo a
ocultar a co-responsabilidade dos EUA, da Inglaterra e da França (poderio
capitalista) – essa queda, saudei-a, mesmo estando consciente de que iria pôr
em risco a boa realidade por mim vivenciada no lado de lá do Muro, na Alemanha
não-capitalista.
No discurso dominante, o uso do termo liberdade é
limitativo, pois procura significar apenas um tipo de liberdade e ocultar
outro: o que conheci na RDA, ou seja, a liberdade de não estar desempregado, de
não passar fome, de não ter que esmolar, de poder viver em segurança, de ter
reforma, de usufruir de ensino e serviço de saúde gratuitos. O Muro indesejável
defendeu essa liberdade, mas aniquilou outras. Complexidades da humanidade…
Quando interrogados (em 1989) sobre qual era o maior problema
que os afectava, a resposta dos cidadãos da RDA foi: não poder viajar para qualquer parte do mundo. Se não diz tudo,
esta réplica diz pelo menos muito sobre a realidade socialista que existia. Que
responderiam os cidadãos portugueses hoje?
«Eu cresci na década de 1980, vi o muro de Berlim cair. É frustrante ver como está Portugal agora, percebe-se que tudo regrediu.»
ResponderEliminarValter Hugo Mãe, entrevista à Veja