O profundo desprezo pela Cultura tem sido uma das muitas,
mas também uma das mais nítidas características da indigna política anti-civilizacional
do actual Governo. Um desdém coerente com a concertada acção protagonizada por
uma gentalha indecente que ilegitimamente continua a (des)governar o nossa
atormentada pátria.
O caso da colecção Miró é apenas o último exemplo desse
escândalo diário, desse contínuo fluir de indecência, de imoralidade, de baixeza,
de incompetência em que se transformou a actividade governativa no nosso país.
Ouviram as declarações do Secretário de Estado da Cultura depois da acusação de
ilegalidade proferida pela Direcção-Geral do Património? Absolutamente confrangedor.
Em vez de evidenciar empenhamento na defesa do património cultural e, neste
caso concreto, manifestar clara vontade de manter no país uma valiosa colecção
de quadros de um dos maiores pintores do século XX, o primeiro responsável
governamental pela cultura assume atitude contra a cultura, exteriorizando
total insensibilidade relativamente ao interesse e às potencialidades inerentes
à posse de tão precioso conjunto de obras de arte. Este sujeito, colocando-se
numa posição de indecorosa subserviência politico-partidária, de obediência ao
chefe e à patroa das finanças, nem sequer se atreve a mostrar perceber o que
percebe, ou seja, a fonte de riqueza que é esta colecção. Desrespeitando-se a
si próprio – digo-o porque o conheço --finge desconhecer que a Arte e a Cultura
não só geram riqueza imaterial como também material, podendo fazer entrar muito
dinheiro nos cofres, bem mais do que o numerário obtido através de apressado
leilão ferido de ilegalidades. Isto é insuportável. Como se pode admitir tal
despautério? Vamos continuar a admitir este desgoverno que dia após dia ofende
a dignidade nacional?
Felicito a deputada Gabriela Canavilhas e os seus colegas de
bancada pela forma decidida como vieram a terreiro defender a Cultura. Essa
intervenção foi determinante na travagem da venda.
O meu amigo BB (leia-se Baptista Bastos) reuniu em volume acabado
de publicar algumas das suas crónicas jornalísticas. Fértil semeadura de
lucidezes sobre o nosso quotidiano, estribada em escorreita prosa. Leitura que,
por isso mesmo, pelo brilho da ideia e pela qualidade da forma literária (já
rara na nossa imprensa), aqui vivamente recomendo. Aí, nesse volume acabadinho
de chegar aos escaparates, se pode ler o que aqui cito e entusiasticamente
subscrevo na íntegra, esperançoso de abrir apetites de leitura e de animar vontades
de acção transformadora:
«Não podemos, nem devemos admitir que esta gentalha destrua
o que ainda deixou restar da decência, da honra e da dignidade da nação e da
pátria.
Acordai, cidadãos!»
João Maria de Freitas-Branco
Caxias, 4 de Fevereiro de 2014
Blog RAZÃO – razaojmfb.blogspot.pt
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