Tenho a satisfação de ser co-fundador, na boa companhia de
dois magníficos Amigos, o José Carlos Oliveira e o Gustavo Faria (este de longuíssima
data), do movimento MIRANTE. No processo de fundação, e como é natural,
discutiu-se muito a denominação, pois ela, para além da óbvia relevância
funcional, implicava ao mesmo tempo uma tomada de posição relativamente ao carácter
mais local ou mais universal da acção a ser desenvolvida pelo movimento
emergente. O resultado desse debate, traduzido no voto unânime expresso pelos
participantes na Assembleia Geral constituinte, parece-me muito feliz. A esse
debate apeteceu-me juntar um esclarecimento complementar. O texto já foi
redigido há mais de 15 dias, no rescaldo da Assembleia. Pedi na altura que o
enviassem por e-mail a todos os membros do Movimento. Mas verifico agora que
algumas pessoas não o receberam. É natural. O nosso secretariado ainda não está
completamente instalado. Mas para colmatar a falha, coloco agora o texto aqui;
também como forma de melhor divulgar esta iniciativa cívica em defesa da
Cultura e do Desenvolvimento. Aqui fica à consideração de todos os Amigos FB,
sejam ou não sejam membros do MIRANTE. Aos que ainda não forem, espero que a
leitura motive o desejo de se inscreverem – tanto mais que basta assinar uma
ficha, dado não haver nenhuma exigência de pagamento de quota. Aqui fica.
MIRANTE – Movimento
para a Cultura e Desenvolvimento
Breve esclarecimento sobre uma denominação
Toda e qualquer acção humana se
gera a partir de um topos, de um
espaço singular concreto – assim como também de um tempus ou cronos, de um
momento no devir temporal. Ela é sempre localizada, no sentido em que nasce e
se desenvolve a partir de um ponto no espaço. Um mirante, na sua dimensão
física, de materialização arquitectónica, transporta consigo o rico significado
simbólico de ser o ponto donde o olhar se estende, projectando-se sobre os
múltiplos pontos constitutivos de um amplo horizonte. Ou, dito de outro modo, o
ponto a partir do qual o olhar se expande para o infinito. Nesse sentido, o
mirante cria universalidade. Na projecção visual nele implicada, por definição,
dá-se o processo simbólico de universalização de valores locais. De forma
paradoxal é a localização do olhar que promove a sua deslocalização, criando
universalidade em vez de particularidade. É esta visão larga que serve de
fundamento à concepção camoniana de Pátria e de patriotismo, em oposição à
atávica e panegírica concepção nacionalista de enaltecimento de elementos
regionais.
Mas o valor simbólico do mirante
é ainda mais largo. Nele a referida projecção é simultaneamente uma concentração,
um chamamento, dado que o seu expandir atrai. Porque a sua essencial função
consiste em proporcionar o desfrute de várias perspectivas. É, por isso mesmo,
lugar excepcional, ponto de observação privilegiado. Ele atrai o olhar ao mesmo
tempo que o expande, no sentido em que nos seduz a olhar a partir dele, pois de
ali se vê mais e melhor. Como diria Garrett, «do mirante a que subimos, pode-se
formar perfeita ideia […]». É o goetheano (ou fáustico) sítio da elevada
contemplação.
«Hier ist die
Aussicht frei,
Der Geist erhoben.»
Der Geist erhoben.»
[A
vista é livre aqui,
O espírito elevado.]
O espírito elevado.]
Eis aqui as razões profundas pelas
quais, na minha óptica, o nosso Movimento não devia incluir Caxias na sua
denominação. Isso iria tornar-se não só um factor de exclusão ditado por bairrismo
estéril, como também, e fundamentalmente, um elemento contrário ao pretendido
espírito universal e negador da valiosa simbologia associada à memória do desaparecido
património arquitectónico caxiense que serviu de inspiração à denominação aprovada
na Assembleia Geral Constituinte realizada no passado dia 21 de Dezembro.
No seguimento do frutuoso debate
então realizado, afigurou-se-me útil legar a todos os membros do nosso emergente
Mirante esta pequena nota de esclarecimento tendente a fundamentar a
deliberação tomada.
João Maria de Freitas-Branco
Caxias, 27 de Dezembro de 2013
Temos que divulgar este Blogue.
ResponderEliminarO Mirante tem que ser mais que um Farol.
Parabéns.
O Mirante vai ter um Blogue ou vai ser este?
Que trabalho se segue?
Como ficaremos a par da próxima dinâmica?
Próximas novidades do Mirante, não há nada?
ResponderEliminarPorque falta dinâmica?