É a violência dada como espectáculo de TV. Que melhor pode
haver para entreter o sujeito que olha para o ecrã sentado no sofá de sua casa?
Um emocionante reality show, com
baixos custos de produção, que para além do entretenimento que proporciona tem
ainda a “virtude” ideológica de levar o desprotegido cidadão telespectador a
supor que a verdadeira violência são aqueles actos de incendiar contentores do
lixo, ou atirar calhaus, e não uma política governativa que extorque pensões e
subsídios condenando seres humanos a viver com 300 ou 400 Euros mensais,
retirando-lhes assim a possibilidade de manter uma vida digna. A grande
Violência fica assim disfarçada por uma violência comparativamente
insignificante.
Lamento que até os bons jornalistas/comentadores televisivos
tenham embarcado nesta transformação da informação em mera diversão, parecendo
ignorarem a gravidade desse fenómeno ensopado de ideologia que concorre para
que o cidadão tenda a tornar-se um mero espectador passivo, um ser entretido,
alguém que, divertido pelas imagens, se vai distanciando
do acontecer real. É o assassinato do cidadão
praticante. Em seu lugar é criado um sujeito social civicamente inactivo,
passivo espectador entretido. E entretenimento gera, frequentemente, a distracção;
pelo que, por efeito de uma realização televisiva e de critérios editoriais que
metamorfoseiam a informação em diversão, o espectador, para gáudio do poder
governamental, devém cidadão distraído.
The show must go on? Não. Não tem,
não deve, nem pode continuar.
João Maria de Freitas Branco
Artigo de opinião no jornal PÚBLICO
(Texto integral e com os sublinhados do autor)
Um "atraente reality show" elevado à qualidade de "ópio do povo"!Parabéns pelos alertas que nos fazes neste texto.O conceito de violência com o qual se fazem imensas confusões! É como se a violência de ser obrigado, pelas políticas governamentais, a passar fome apesar de ter contribuido a vida toda para a resolução da sua subsistência, não fosse violência!
ResponderEliminarOutro conceito verdadeiramente transfigurado por uma comunicação superficial e pretensamente apolítica é o de radical. O que seria da humanidade se nunca tivesse existido radicalidade no pensamento, na ciência, na arte, na política....
Leva este debate para junto dos alunos e colegas profs. Obrigado pelo comentário.
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