Num comentário à última grande entrevista televisiva do
primeiro-ministro Passos Coelho, o deputado líder do grupo parlamentar do PSD,
Luís Montenegro, elogiou o entrevistado afirmando que a sua prestação tinha
sido “esclarecedora”. Habitualmente tenho grande dificuldade em concordar com o
que este Sr. afirma, mas desta vez aconteceu o contrário. Não posso estar mais
de acordo. De facto, a entrevista foi muito esclarecedora. Ficou a perceber-se,
em definitivo, que o primeiro-ministro Passos Coelho não é um homem
bem-intencionado, convencido de que está a servir os superiores interesses da
Nação. Não é um sujeito meramente equivocado, talvez por efeito nefasto da
acção de maus conselheiros. Não, nada disso. É alguém que de forma bem
consciente, de modo concertado, está a levar a cabo uma política de total destruição
do Estado social criado no seguimento da Revolução de Abril de 1974. Política
que tem em vista servir os interesses da alta finança.
A entrevista teve dois momentos de revoltante exibição de
uma fria e desavergonhada imoralidade: primeiro, quando confrontado com a
existência de 10 mil crianças com fome nas escolas do país, o chefe do Governo disse
tratar-se de um facto lamentável mas que era efeito forçoso da austeridade
indispensável à salvação do país. É triste, mas tem que ser assim. É o nosso
fado. Eis a filosofia governativa. Fez lembrar o argumento belicista daqueles
facínoras que diante dos cadáveres de crianças, mulheres e idosos indefesos falam
tranquilamente de “efeitos colaterais”. No século XXI, crianças com fome nas
escolas de um país do primeiro mundo é vergonha intolerável. É coisa puramente inaceitável.
Como pode o primeiro-ministro de um país europeu dormir descansado sabendo que na
pátria que governa há meninos a passar fome nos bancos da escola pública? O
homem Pedro Passos Coelho que assim justifica o injustificável é o mesmo que dirige
o PSD, partido que na Assembleia da República, há bem pouco tempo, não deixou
passar uma proposta do Bloco de Esquerda para que houvesse uma redução geral de
custos nas próximas campanhas eleitorais de todos os partidos. Esclarecedor,
sem dúvida: para Pedro Passos Coelho a propaganda partidária é mais importante
do que a resolução do vergonhoso e inadmissível problema da fome das crianças
que frequentam a escola em Portugal. Isto, só por si, já justifica a imediata demissão
deste primeiro-ministro. Porém, para meu espanto, não ouvi da boca de um único
comentador político a mais leve alusão crítica a esta passagem da entrevista. Assustador!
Como pode isto passar sem suscitar imediata e viva indignação aos comentadores
de serviço?
O segundo momento de desbocada imoralidade foi aquele em que
o primeiro-ministro, falando de forma muito clara, afirmou ser obrigatório
cortar nos salários e nas prestações sociais, por corresponderem a 70% da
despesa pública. Outra inevitabilidade. Onde estão então as famosas gorduras do
Estado que encheram o seu discurso eleitoral? Onde está o cumprimento dessa fundamental
promessa eleitoral? As gorduras, afinal, não existem? Corte obrigatório porquê?
Porque, explica o governante, o pagamento dos juros aos credores externos é
sagrado; vale mais do que as pessoas que sofrem. A ideia de que os juros devam ser
renegociados à luz da inaceitabilidade do sofrimento humano e do empobrecimento
de uma Nação é coisa que não passa pela mente do Senhor primeiro-ministro. Política
sem moral. É o que isto é.
Quando uma política está divorciada da moral só há uma coisa
a fazer: pôr fim a essa política. Além disso, a política do Governo, agora
consubstanciada no Orçamento do Estado para 2013, é de novo inconstitucional, estando
em completa dessintonia com as linhas mestras do programa eleitoral dos
partidos da maioria, sufragado nas últimas eleições, bem como com o programa do
Governo aprovado pela AR. Temos, portanto, um Governo que pratica uma política
imoral, ilegal e sem legitimidade democrática.
Demitir o actual Governo tornou-se, a partir da noite da passada
quarta-feira, uma prioridade ainda mais urgente.
VERDADEIRAMENTE SINISTRO....
ResponderEliminarÉ mesmo isso que dizes, João! POLÍTICA SEM MORAL!- e esta é a bússola que ilumina o caminho deste chefe de governo....
Ele não tem os mesmos pontos de referência que a civilização europeia veio a desenvolver, afirmar e implantar... Há muito tempo que tenho para mim que estamos em guerra!O pretexto da crise leva este senhor à destruição do que temos construido no nosso país! A falta de vergonha e de clareza é tal, que tendo( hoje é óbvio) um plano desde o inÍcio... fez tudo para o esconder, na campanha eleitoral e nos sucessivos discursos, tomando-nos por parvos,adoptando uma expressão facial de "anjinho" revela-se um autêntico "demónio"...é terrorista esta política!É TERRORISTA O PRIMEIRO MINISTRO!Com a Margaret Thatcher nós sabiamos o que ela pretendia fazer...aqui são lançados, de cada vez que fala, mais uma "bombinha", agora foi a escola pública...o parceiro de coligação ficou a "ver navios"!Vai tudo aparecendo aos poucos, mas o puzzle já está montado há muito temppo na sua cabeça!
Tenho andado a leccionar o nazi fascismo aos meus alunos. Ontem estivemos "às voltas" com o julgamento de Nuremberg...Há qualquer coisa de sinistro nisto que vivemos hoje, aqui, em Portugal E QUE ME "CHEIRA" à carne queimada do Holocausto!Estou a fazer uma metáfora.... Sinto isso cada vez mais claro, quando penso, em simultâneo, neste teu comentário e naquelas personagens nazis, "maravilhosos e doces chefes de familia"!Aquilo a que me refiro é à semelhança nas atitudes: esta PROFUNDA INDIFERENÇA, ATITUDE FRIA, DESUMANA, DISTANTE...bem caracteristica daqueles horrendos seres que perante os filmes das atrocidades que cometeram, muitos continuaram impávidos, serenos e seguros "da justeza" da sua acção anterior....Esta serenidade e segurança, deste governante Passos Coelho que continua, segundo assegurou há pouco tempo, a dormir muito bem é. Isto é VERDADEIRAMENTE SINISTRO!!!!!
Quanto aos comentadores...é aquela enorme dificuldade dos seres humanos em se colocarem na pele dos outros, o que não sendo desculpável para o 1º ministro! também não o pode ser de modo algum para politólogos...