Um dos mais desavergonhados exemplos daquilo a que chamo irracionalismo à solta foi dado a ver em
Portugal na TVi: um programa intitulado “Depois da vida” em que uma senhora de
nacionalidade inglesa (segundo julgo saber) que dizia possuir poderes
sobrenaturais “falava” com os mortos. É lamentável que em pleno século XXI um
canal de televisão que pretende apresentar-se como órgão de informação credível
produza uma aldrabice deste quilate. Este tipo de charlatães tem sido
desmascarado por várias entidades científicas e organizações, como por exemplo,
cá na nossa pátria, a Associação dos Cépticos de Portugal (CEPO – com site na
Internet), que se deram ao trabalho de dar a conhecer as técnicas de
manipulação utilizadas em espectáculos deste género e através das quais se
consegue que a mais pura falsidade pareça não o ser. O problema é a natural
tendência humana para o gosto da ilusão, o desejo que certas coisas mirabolantes
sejam verdade. Algo que logo facilmente se combina com esse infinito que dá pelo
nome de estupidez. Depois, a tudo isto ainda se vem adicionar a ignorância, a
falta de cultura científica, a desinformação.
Estou a falar deste caso porque recentemente um ex-funcionário
do canal televisivo espanhol que, à semelhança da TVi, produziu também o
programa da charlatã inglesa, a médium Anne Germain, veio a público contar como
é que a aldrabice era cozinhada nos bastidores com a cumplicidade dos
funcionários do canal televisivo, a Telecinco. Em Espanha o programa chamava-se
“Más allá de la vida”. Veio tudo publicado no conhecido diário El Mundo. Agora a TVi está confrontada
com um teste à sua seriedade enquanto órgão de informação nacional. Aguarda-se
que dê conhecimento do teor do trabalho jornalístico do El Mundo e que tenha a honestidade de revelar o que de semelhante por
cá ocorreu nos seus estúdios.
Que irá prevalecer? A racionalidade honesta ou a
irracionalidade desonesta ditada por interesses comercias? Como costumam dizer
os políticos da moda, aguardemos com serenidade.
NOTA: Quem esteja interessado em saber mais sobre as técnicas
de manipulação e construção da ilusão em casos como o do referido programa
televisivo, talvez se divirta com as indicações dadas pelo ilusionista inglês
Derren Brown, ele próprio um talentoso utilizador dessas técnicas. James Randi,
que tive o gosto de conhecer pessoalmente há alguns anos, também pode ajudar.
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