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quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Sobrenatural televisivo


Um dos mais desavergonhados exemplos daquilo a que chamo irracionalismo à solta foi dado a ver em Portugal na TVi: um programa intitulado “Depois da vida” em que uma senhora de nacionalidade inglesa (segundo julgo saber) que dizia possuir poderes sobrenaturais “falava” com os mortos. É lamentável que em pleno século XXI um canal de televisão que pretende apresentar-se como órgão de informação credível produza uma aldrabice deste quilate. Este tipo de charlatães tem sido desmascarado por várias entidades científicas e organizações, como por exemplo, cá na nossa pátria, a Associação dos Cépticos de Portugal (CEPO – com site na Internet), que se deram ao trabalho de dar a conhecer as técnicas de manipulação utilizadas em espectáculos deste género e através das quais se consegue que a mais pura falsidade pareça não o ser. O problema é a natural tendência humana para o gosto da ilusão, o desejo que certas coisas mirabolantes sejam verdade. Algo que logo facilmente se combina com esse infinito que dá pelo nome de estupidez. Depois, a tudo isto ainda se vem adicionar a ignorância, a falta de cultura científica, a desinformação.

Estou a falar deste caso porque recentemente um ex-funcionário do canal televisivo espanhol que, à semelhança da TVi, produziu também o programa da charlatã inglesa, a médium Anne Germain, veio a público contar como é que a aldrabice era cozinhada nos bastidores com a cumplicidade dos funcionários do canal televisivo, a Telecinco. Em Espanha o programa chamava-se “Más allá de la vida”. Veio tudo publicado no conhecido diário El Mundo. Agora a TVi está confrontada com um teste à sua seriedade enquanto órgão de informação nacional. Aguarda-se que dê conhecimento do teor do trabalho jornalístico do El Mundo e que tenha a honestidade de revelar o que de semelhante por cá ocorreu nos seus estúdios.
Que irá prevalecer? A racionalidade honesta ou a irracionalidade desonesta ditada por interesses comercias? Como costumam dizer os políticos da moda, aguardemos com serenidade.

 

NOTA: Quem esteja interessado em saber mais sobre as técnicas de manipulação e construção da ilusão em casos como o do referido programa televisivo, talvez se divirta com as indicações dadas pelo ilusionista inglês Derren Brown, ele próprio um talentoso utilizador dessas técnicas. James Randi, que tive o gosto de conhecer pessoalmente há alguns anos, também pode ajudar.

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