A noite do passado dia 23 de Outubro proporcionou-me curiosa vivência. Foi a última noite de Lua cheia, e, por volta das 23h., durante um passeio nocturno pelo campo na companhia da minha mulher e do meu cão, ao olhar para a Lua verifiquei que as nuvens na sua proximidade, nuvens baixas, tinham muito fraca densidade e quando passavam diante do disco lunar deixavam de se ver, por efeito da grande intensidade da luz reflectida. Por essa razão, embora as nuvens se interpusessem, a imagem da superfície do astro era surpreendentemente nítida. Como se de facto não houvesse nenhuma nebulosidade sobreposta. Mas em redor do planeta viam-se cúmulos mais densos, situados a muito maior altitude. Claro está que as nuvens mais afastadas e mais densas se deslocavam, em relação ao observador terrestre, mais lentamente. Foi então que se deu um primeiro efeito óptico. O observador ficava com a nítida sensação de que as nuvens mais visíveis estavam num plano superior ao da órbita do nosso satélite natural. Dito de outro modo, a lua parecia estar dentro da atmosfera terrestre! Era impressionante. As nuvens eram percepcionadas como estando a passar por traz do astro. Ilusão óptica muitíssimo curiosa. Mas a coisa não ficou por aqui. A dada altura, a Lua começou a agitar-se. Dava pequenos saltos, movendo-se de um lado para o outro com grande rapidez. Para cima, para baixo, para o lado, em constante oscilação, ziguezagueante. Parecia que o astro dançava no espaço sideral. Uma ilusão óptica muito divertida causada pelo movimento múltiplo de várias nuvens altas e de uma névoa mais baixa. Uma combinação de movimentos. Curiosa e atraente ilusão reforçada pelo facto de a luz intensa da Lua cheia, um pico de luar, tornar imperceptível a neblina no espaço do círculo lunar. Concentrando o olhar apenas na superfície iluminada do planeta parecia não existir nenhuma interferência de nebulosidade, tal era a nitidez com que se observavam as manchas dos mares lunares e as crateras. Quem me acompanhava pôde vivenciar exactamente a mesma ilusão ou erro perceptivo que se prolongou por pouco mais de dois minutos (tempo da minha observação, o que não significa que a duração total do efeito não tivesse sido maior). Foi então que pensei: se estivesse aqui um vasto conjunto de pessoas, era este o momento propício para lançar nova crença. Seria o milagre da Lua. Com alguma habilidade e talento persuasivo até talvez se conseguisse fundar uma nova religião.
Torno aqui pública esta vivência pessoal porque ela é muito mais do que um mero divertimento casual motivado por uma combinação de movimentos e consequentes ilusões ópticas. Ela é a revelação do mistério do pretenso milagre do Sol, em Fátima (Cova da Iria), no dia 13 de Outubro de 1917. O Sol oscilante, saltitante, ziguezagueante que milhares de pessoas dizem ter observado -- embora muitos dos presentes também afirmassem não terem observado nada de extraordinário nesse dia na Cova da Iria. Pretensos milagres do mesmo tipo foram relatados em outras partes do mundo, como por exemplo em Heroldsbach, na Alemanha, no ano de 1949. Com enorme probabilidade, o que se passou na Cova da Iria (e em outros locais) foi um efeito óptico, uma perturbação perceptiva, uma ilusão de óptica igual ou semelhante à que vivenciei no passado dia 23 de Outubro. Também eu vi um astro aos saltos. Um astro dançante ou ziguezagueante. No meu caso, foi a Lua; para os outros, foi o Sol. Só me faltou a companhia de uma multidão e o empurrão da fé, mesclada com a ignorância da astronomia, para poder ter embarcado numa fantástica experiência místico-religiosa. Inconvenientes do ser-se racionalista possuidor de alguma cultura científica. Não se pode ter tudo.
Aos interessados neste tipo de pretensos milagres, recomendo a leitura da interpretação do Prof.Auguste Meessen do Instituto de Física da Universidade Católica de Lovaina.
domingo, 7 de novembro de 2010
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És um sortudo. Tu e a Catarina já podem contabilizar um milagre. Vou passar a olhar mais para a lua a ver se me calha algum também. Milagres mesmo a sério têm calhado ao Mexia que este ano ganhou 3,1 M€ porque tem gerido bem a EDP. E a mais uma porrada de empregados de luxo dos bancos e das grandes empresas. E ao Jardim Gonçaves que se atribuiu 2,1 M€ de reforma.
ResponderEliminarEstou a ler o Livro da Consciência que andaste por aí a propagandear. Muito interessante. Mas desalentador. Ele vai querendo provar a cada passo que essa coisa tão simpática que é a alma e que sobe aos céus quando morremos afinal, não sobe nem desce e morre mesmo ali, agarrada ao corpo inanimado. Vai querendo provar mas não consegue porque contra a fé... nicles.
Vejo, pelo que leio, que bem aproveitam as noites de lua cheia junto ao Grande Oceano. Clareza nas mentes é o que nós precisamos!Já podias montar uma montra no museu de Fátima com a "vossa visão"...esclarecida...Um abraço,
ResponderEliminarIsabel
Interpretas bem o pretenso milagre do Sol aos saltinhos...aquilo de verdadeiro só tem a enorme lavagem ao cérebro a que foi(e é) sujeito o povo pela igreja e quejandos.
ResponderEliminarSerá que o João terá lido com atenção, aquilo que Auguste Meessen realmente disse sobre o milagre do sol?
ResponderEliminarHá quatro décadas João Ilharco já defendia a mesma tese no seu livro "Fátima Desmascarada".
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