Ao longo do dia de hoje, todos os grandes órgãos de comunicação espalhados pelo mundo estão a noticiar a realização de um debate político eleitoral. O primeiro debate entre os dois principais candidatos à presidência dos EUA, Donald John Trump e Joseph Robinette Biden (mais conhecido por Joe Biden).
Essa atenção generalizada tem plena justificação, uma vez que o resultado da eleição presidencial estadunidense se repercute directa ou indirectamente na vida de cada um de nós, na realidade de cada região, de cada país, de cada continente. Uma única decisão do presidente dos EUA e da sua Administração pode abalar a paz mundial, acabar com a civilização humana e até pôr fim à vida na Terra. Mesmo pondo de parte a hipótese de catástrofe nuclear, a salvação do Planeta enquanto espaço acolhedor de vida, humana e não humana, passa em grandíssima medida pelo empenhamento dos EUA em políticas ambientais que se traduzam em acções de efectivo combate ao aquecimento global e à poluição.
No entanto, essa principal notícia do dia é essencialmente falsa. Mais um caso de fake news, mesmo tendo a atenuante da não intencionalidade, como adiante se perceberá.
Que me leva a classificar assim uma notícia tão clara e objectiva? Onde está a falsidade dessa notícia que por todo o lado circula? Explico: o que está a ser noticiado é uma impossibilidade. Está a ser anunciada a realização de uma coisa impossível de se realizar. Eis a razão da falsidade apontada.
O acontecimento que está a ser anunciado, um debate político entre dois sujeitos, Joe e Donald, nunca poderá ter lugar. Esta previsão é fácil de fazer. Um dos sujeitos envolvidos não satisfaz os supostos mínimos para que se possa realizar um debate político autêntico. Por isso, o que vai ter lugar dentro de poucas horas (por volta da meia-noite portuguesa) é um encontro entre dois candidatos a uma eleição num palco mediático, mas nunca será um debate.
Duas pessoas não podem manter discussão séria sobre um tema se pelo menos uma delas for totalmente ignorante na matéria em causa, se for destituída da capacidade de racionalização, se não souber distinguir entre o verdadeiro e o falso, os factos e as mentiras/ilusões, a legalidade e a ilegalidade, e se, para além disso tudo, for um indivíduo desprovido de ética e de moral, um completo agente da desonestidade (em todos os registos). Uma simples conversa a dois em que um dos sujeitos envolvidos mantenha, por inépcia ou intencionalidade, um discurso essencialmente irracional tenderá a ser um acto estéril. Se for um debate, uma discussão de ideias, a consequência do investimento será ainda mais decepcionante, dado o indeclinável curto-circuito causado pelo contacto do puro discurso irracional com o discurso racional. É por isso que quando acidentalmente nos cruzamos com uma víbora num caminho estreito convém não optarmos por tentar encetar uma discussão sobre direitos de utilização daquele exíguo espaço.
Receio que Joe Biden caia no erro colossal de querer realizar o impossível: um debate com a víbora.
João Maria de Freitas Branco
Caxias, 29 de Setembro de 2020
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