Ao longo dos últimos dias a nossa comunicação social esteve
inundada de notícias sobre um congresso partidário. O que se viu e ouviu foi
confrangedor pelo grau de mediocridade exibido. Um tipo de contribuição,
lamentavelmente já banalizada, para o descrédito da política e da forma
organizativa institucional denominada partido político. Mas porventura pior
ainda foi o que não se viu nem ouviu: o vazio, a total ausência de gesto crítico,
de manifesta indignação, o ensurdecedor silêncio dos congressistas perante o intolerável
facto de existirem presos políticos em Angola e de o partido reunido em
congresso não ter condenado na Assembleia da República, como é dever de
qualquer autêntico democrata, o inadmissível e vergonhoso acto punitivo
praticado em Luanda por uma justiça partidariamente instrumentalizada. Triste
que, mesmo sem congresso, essa mesma indigna inexistência de inequívoca
condenação se tivesse podido observar também do lado esquerdo do nosso
Parlamento, no seio da família partidária historicamente mais vitimada pela
indignidade do acto da detenção política. Incomodativo paradoxo.
Se a estas indignas ausências de protesto democrático em
defesa da Liberdade, da Justiça e do progresso civilizacional adicionarmos o
arrepiante caso Panama Papers que o
EXPRESSO, na sua edição online, tem
vindo a revelar nas últimas horas, ficamos com visão bem mais nítida sobre os
riscos que corremos e sobre o para onde está a resvalar o nosso mundo.
João Maria de Freitas-Branco
Caxias, 4 de Abril de 2016
Caxias, 4 de Abril de 2016
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