Mas tal não é o caso, e isso aqui me traz. A afirmação
contém gravíssimas implicações políticas.
Elas começam a perceber-se nas
palavras proferidas por outro candidato presidencial, Sampaio da Nóvoa, logo após
a publicação da entrevista. Veio este pôr em evidência a questão da importância
da vírgula. A frase, como disse, deve ser construída do seguinte modo: Daqui a
semanas sou presidente da República, (VÍRGULA) se os cidadãos eleitores assim o
quiserem.
A declaração de Marcelo Rebelo de
Sousa implica a aceitação da inutilidade do acto eleitoral. Para quê gastar
tempo e dinheiro com assembleias de voto, com a impressão de milhões de
boletins, com a colocação de urnas e de câmaras de voto? Sim, para que serve todo
esse dispêndio se o resultado já é conhecido? Ficámos a saber existir um
candidato a presidente da República para quem as eleições são coisa
dispensável.
Mas a gravidade da afirmação não
fica por aqui. Há mais e não menos danosas implicações políticas. Trata-se,
objectivamente, de um indecoroso apelo à abstenção, à não-participação do
cidadão. Por outro lado, é também completa desconsideração pelo debate de
ideias. É a negação do valor da livre
discussão, representando, do mesmo passo, exuberante desprezo pela visão
dos outros candidatos.
Sendo politicamente escandalosa a
asseveração é, no entanto, útil. Porque torna clara a diferença entre a
candidatura de Rebelo de Sousa e a de Sampaio da Nóvoa. Enquanto aquela
representa a continuidade, esta
representa a inovação. É isto que
está em causa: continuarmos a ter um presidente que é o primeiro chefe, o mais
alto magistrado, ou um que seja o primeiro servidor da res publica, que seja um presidente
cidadão, genuinamente independente – de partidos, corporações, negócios,
interesses institucionalizados; continuarmos a ter um presidente que favorece o
jogo de influências, a intriga política como método, a dependência partidária,
a asfixia da democracia por efeito da cada vez menor participação cívica, ou,
pelo contrário, rompermos com o situacionismo, pondo em Belém um presidente da
Liberdade, da cultura da não-dependência, alguém que, com a sua acção, concorra
para acabar com o reinante desencantamento popular, fazendo com que cada vez
mais pessoas sejam cidadãos praticantes.
Eis aqui a escolha que os portugueses têm que fazer no
próximo dia 24 de Janeiro.
João Maria de Freitas-Branco
Caxias, 13 de Dezembro de 2015
Por motivos
ResponderEliminarmais que conhecidos
será o meu voto
a 14 de Fevereiro
(e lá estaremos de corpo inteiro)