Quando hoje entrei no Facebook
quase me assustei. Não me passou pela cabeça que o simples gesto de
reencaminhar a notícia da sessão de apresentação de uma candidatura pudesse
motivar as reacções que aqui vim encontrar. A Helena Pato fala do meu “entusiasmo”.
Entusiasmo? Desculpa Lena, mas não me parece que a palavra se aplique. Vou
tentar esclarecer tudo. Mas apresso-me já a tranquilizar (espero!) a Irene, a Lena,
o Rui Nery, o Rui Andrade, queridas(os) Amigas(os) reais e não apenas virtuais
(facebookianos) –, e faço-o com a seguinte declaração solene: sou apoiante
inequívoco de outro candidato, pessoa que ainda não anunciou a sua candidatura
e cujo nome, apenas por isso, aqui não cito nem devo citar. O Henrique Neto tem
conhecimento dessa minha clara escolha política desde a primeira hora. Esse
facto, no entanto, julgo eu, não me impede de considerar o Henrique Neto um
digno candidato. Convirá não confundir coisas distintas. Uma coisa é considerar
que fulano é a pessoa mais indicada para ocupar o cadeirão de Belém; outra,
totalmente diferente, é achar que sicrano merece ser candidato embora eu não o
apoie. Posso ajudar a viabilizar uma candidatura mas não votar nesse candidato,
não participar na sua campanha eleitoral, não subscrever o programa político,
etc. Posso ser movido, por exemplo, por uma profunda e sincera amizade pessoal,
pela consideração que o sujeito em causa me merece, independentemente da quantidade
de divergência política que possa existir num quadro de sã convivência
democrática. É que, acreditem, não sou mesmo apologista de candidaturas únicas,
filhas do pensamento único. Defendo exactamente o oposto: a riqueza da
diversidade. Por isso, na base deste raciocínio lógico, até podia ajudar a noticiar
e a concretizar a candidatura de alguém que fosse meu claro adversário político
mas simultaneamente meu Amigo, merecendo-me o maior respeito e consideração. Posso
estimar um ser humano sem estimar o seu ideário político – quem conheça o meu
círculo de amigos, no decorrer da vida, não terá dificuldade de encontrar
exemplos demonstrativos desta realidade. No entanto, disso não é exacto exemplo
o caso vertente.
Isto nos conduz a outra questão.
Pode ser cegueira minha, mas no
contacto pessoal que até hoje tive com o Henrique Neto nunca observei o “direitismo”
referido pela Irene e pelo Rui… Como é do conhecimento público, sou, tal como o
próprio H.Neto, co-fundador do MDR, movimento cívico que tem como único
objectivo alterar a lei eleitoral de modo a pôr fim ao despautério da
partidocracia, com listas de candidatos impostos de cima para baixo pelas cúpulas
partidárias. Tenho trabalhado com ele no âmbito deste movimento e, na base
dessa experiência, só posso considerá-lo um homem de esquerda, mas também uma
pessoa séria, integra, que ao longo de toda a vida se movimentou politicamente
entre o PCP e a chamada “esquerda do PS”. Recordo que o H.Neto começou a trabalhar
aos 14 anos(!) como operário, que pertence a uma família de operários da
indústria vidreira da Marinha Grande, foi militante do PCP e já depois, aos 40
anos d idade, tornou-se empresário, criando a bem sucedida Iberomoldes (empresa
de dimensão internacional, que foi considerada, no seu sector, uma das principais
do mundo). Em vários momentos teve a coragem de denunciar o jogo de interesses
no interior da Assembleia da República, actos de corrupção, assim como criticou
de forma desassombrada a direcção socratista (recuso-me a escrever socrática) do
seu próprio partido. Comportamento incomum que me merece consideração.
Última questão: embora não vá
votar H.Neto, nem o vá apoiar na campanha eleitoral, aprecio na sua candidatura
o esforço para que a Presidência da República não esteja «condenada a ser uma
mera extensão da representação partidária». Além disso, como candidato, H.Neto
continuará a bater-se por uma causa que em conjunto abraçámos; a já referida mudança
da lei eleitoral. Também reconheço nesta candidatura um esforço de moralização
da vida política, de combate à corrupção (elemento incompatível com a
democracia autêntica). Uma prioridade absoluta. A relação pessoal e este
conjunto de concordâncias farão com que eu esteja presente na sessão da próxima
quarta-feira, embora seja apoiante de outra candidatura que em devido tempo
virá a ser anunciada.
Terei sido claro? Terei
conseguido tranquilizar os Amigos comentadores? Espero que sim.
A todos agradeço os comentários
aqui deixados. Agradeço principalmente à Irene, à Lena, aos dois Ruis (Nery e Andrade)
porque com as suas palavras me ajudaram a consciencializar os equívocos
involuntariamente por mim semeados. Se foram levados a ver, a pensar, a sentir
o que aqui expressaram, a responsabilidade (a culpa, como é uso dizer-se em
espaço de influência católica) só pode ser minha e de mais ninguém.
Agora, tenho que o dizer já, é
inevitável que depois do aqui afirmado fique a pairar uma tremenda dúvida: será
que me vão trucidar quando souberem quem é de facto o meu candidato? Quando
ficarem a conhecer quem é a pessoa em quem vou votar, que vou apoiar
activamente durante a campanha eleitoral e com quem até já estou a colaborar? Será
que vou voltar a desiludi-los? Fiquemos por enquanto neste suspense…
Beijos e abraços!
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