Já não há jornada em que sobre nós não se abata revoltante
escândalo, abjecta indecência ou intolerável imoralidade. Tudo isso se
banalizou -- o escândalo, a falta de decência, a imoralidade, a baixeza. E com
isso, o ambiente pátrio devém cada vez mais insuportável para a pessoa de bem.
O caso de hoje (dia 8 de Outubro) foi o do silenciamento do Baptista Bastos. Os
novos poderes agora instalados no Diário
de Notícias puseram fora do jornal uma das já poucas vozes livres e de límpida
lucidez crítica presentes na nossa imprensa. Todas as quartas-feiras, na coluna
que assinava, o Baptista Bastos não só incitava o leitor a pensar, como também,
com seriedade, profundeza e generosa inteligência crítica, nos ajudava a pensar
bem; a pensar melhor. Como se pode admitir o apagar de tão enriquecedora prosa?!
A aguda crise civilizacional em que nos afundamos, entre outras coisas,
caracteriza-se precisamente pela ascensão do homem-massa de que Ortega y Gasset
nos falou; ser que não pensa, que aprecia a embriaguez, que execra o sério, o
profundo, o difícil, o esforço, a nobreza do espírito racional e se compraz na
superficialidade, na futilidade, no vazio, no irracional, no gosto pela
cretinização, no culto dos prazeres imediatos associado a uma néscia
infantilização.
A presença do Baptista Bastos nas páginas do DN era um
antídoto contra este decaimento cultural e civilizacional.
No seu último artigo, intitulado “Ponto final”, Baptista
Bastos despede-se dos leitores dizendo: «Fui posto fora, mas não das palavras.
Vou com elas, velhas amantes, para aonde haja um jornal que as queira e admita
a indignação e a cólera como elementos de afecto, e sinais de esperança, de
coragem e de tenacidade.» Vai, vai depressa, meu bom Amigo, na companhia dessas
magníficas amantes tuas (nossas), para lugar aonde possas rapidamente voltar ao
convívio com os leitores agora deixados órfãos e acarinhar mais ainda as
amantes no continuado esforço do espalhar de luz. Não pares!
Exausto de tanta vilania mas jamais rendido, aqui expresso a
minha activa indignação face à mediocridade indecente da decisão agora tomada pela
gentalha que parece ter tomado conta do Diário
de Notícias e endereço afectuoso abraço de solidariedade ao BB.
João Maria de Freitas-Branco
Caxias, 8 de Outubro de 2014
E não foi só o BB, João. Outros excelentes cronistas foram "substituídos" por uma gente que, na melhor das hipóteses, "não me diz nada". Entretanto, os novos "responsáveis do "DN" mantiveram religiosamente (em sentido literal...) o patareco do João César das Neves e um proclamado sociólogo fascistóide, que também escreve (ou escrevia) na "Sábado", onde, em tempos, "glorificou" a tortura e assassínio de Victor Jara, intentando uma "comparação", pretensamente jocosa, entre as "mãos partidas" da vítima e as "mãos inteiras" dos algozes: nunca mais olhei sequer para a prosa da criatura, inevitavelmente nojenta (nestas coisas, não há tolerância possível, nem paciência para com as diarreicas dejecções de apoiantes de torcionários).
ResponderEliminarJá não nos restam mais do que uns fragmentos de jornais, mesmo auto-intitulados "de referência", que sejam legíveis e não transbordem de imbecilidade, incultura, indignidade, asneiras linguísticas!...