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quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Ser intelectual e combater a confusão


Há assuntos sobre os quais nem sequer me passa pela cabeça escrever e sobre os quais tenho o hábito de nada ler. Mantendo-me fiel a esta atitude de vida, não posso, porém, permanecer indiferente à actual enxurrada de manchetes espalhadas por todos os órgãos de comunicação, com excepção do jornal Público. O acontecimento motivador de tal celeuma pertencente àquela esfera de conteúdos que a imprensa cor-de-rosa designa por “vida dos famosos”, “lado negro da vida dos famosos”, “a vida íntima dos famosos”. Expressões que só por si me impelem a higiénica fuga. Mas não quero com isto dizer estar contra a opção editorial de órgãos de comunicação de referência como o Expresso, o DN ou a Visão. Muito pelo contrário. Para mais quando no caso vertente existe alegado comportamento criminoso protagonizado por figura pública que não se inibiu de trazer para a ribalta a sua própria vida privada, tornando-a, portanto, necessariamente pública. A este propósito a revista Visão enunciou uma pertinente interrogativa: «até onde é legítimo alguém usar a sua privacidade para se promover social e politicamente?»

Neste caso, o que para já me impede de ficar em silêncio é tão só a confusão que mais uma vez vejo triunfar na nossa hodierna sociedade e o meu militante desejo de lhe oferecer resistência intelectual. Como sabem os que têm a generosidade de ler o que escrevo, tenho desenvolvido o conceito de confusão alertando para a sua função ideológica e histórica (v. o meu ensaio, consultável neste blog, intitulado “Racionalidade: confusão e anticonfusão”). Vivemos mergulhados na confusão. Habitamos um mundo confuso. E a confusão é inimiga da Liberdade; ela semeia dependências. Daí a necessidade inalienável de investir em esforço de dilucidação. É isso o que aqui faço.

Nos referidos trabalhos jornalísticos tenho visto sistematicamente associadas duas coisas que jamais podem coabitar no mesmo ser humano, uma vez que se excluem mutuamente. Refiro-me ao carácter e à condição de intelectual. Dizer de uma pessoa que é um “intelectual reputado” e ao mesmo tempo pôr em evidência a sua falta de carácter é espalhar confusão.

Superemos então o estado de confusão e clarifiquemos.

Qual a primeira condição para se ser um intelectual? A principal condição para que alguém possa ser considerado um intelectual é o carácter. Quem não tiver carácter não é nem pode ser um autêntico intelectual. Pouco ou nada importa que exiba títulos universitários ou bibliografia pessoal. Sem carácter não se é intelectual verdadeiro. Tenho dito.

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