A última página da revista “Visão” tem vindo a criar em mim
o hábito de leitura iniciada de trás para a frente. Nela deparamos com a “Boca
do Inferno”, invariável manifestação de um denso humor inteligente, qualidade incomum
entre os nossos escreventes. Fenómeno reconfortante. Mas a crónica desta semana
é de singular qualidade, porque combina o dito humor inteligente com a ironia,
a lucidez política, a sensibilidade humanística e a tragédia. Óptimo cocktail. Razão
para não querer deixar de vir aqui recomendá-la a todos os Amigos do Facebook. Só
para abrir o apetite de leitura aqui ficam estas linhas da crónica assinada
pelo Ricardo Araújo Pereira: «Quando eu for grande quero ser teórico da
austeridade. […] A austeridade destaca-se, na história das ideias, por uma
característica original: não tem alternativa. […] é um sossego. A austeridade
pretende controlar o défice mas não consegue. Paciência: não há alternativa. A austeridade
aprofunda a recessão e gera desemprego. Paciência: não há alternativa. A austeridade,
enfim, não está a funcionar. Nada a fazer: não há alternativa. […] Imagine que
vai ser devorado por um tigre. Fugir do tigre não vale a pena. Não seja lírico.
Já lhe disseram que não há alternativa. Lutar com o tigre é inútil (recordo que
não há alternativa). O melhor é ficar quieto e deixar-se devorar. E, já agora,
deitar uma pitada de sal no lombo, que o tigre gosta da carne apaladada. O trabalho
do Governo é tratar deste tempero. Não se preocupe com nada.»
Parabéns Ricardo. Caros Amigos, leiam a crónica completa, on
line ou em papel, mas não fiquem quietos a deixarem-se devorar pela poderosa cambada
que por aí anda à solta. Bom fim-de-semana.
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