Sabem aqueles que acompanham a minha vida pública que no
espaço da saudável controvérsia, do debate de ideias, sempre recuso a
fulanização. Estará aí, por certo, uma das minhas muitas costelas sergianas.
Não vou aqui abrir excepção. No entanto, depois de ao longo dos últimos dias
ter escutado e lido com atenção múltiplos comentários sobre o que se está a
passar no interior da Igreja Católica não posso deixar de manifestar
perplexidade apimentada de indignação face ao silêncio dos ditos comentadores,
e principalmente os que são católicos confessos (como é o caso de um dos mais
mediáticos comentadores políticos desta nossa terra), face ao que considero ser
uma aberração civilizacional, para além de o ser, também, e em particular, no
plano da moral e da política ou, se preferirem, da ético-política.
Refiro-me ao
acontecimento ocorrido no passado dia 8 de Março, dia internacional da mulher, nas
imediações da Basílica de S.Pedro, em Roma. A religiosa americana, católica,
Janice Sevre-Duszynska, manifestou-se na via pública apelando à aceitação da
ordenação de mulheres no seio da Igreja Católica e chamando a atenção para a
ausência de vozes femininas no Conclave que se vai iniciar hoje, na cidade do
Vaticano. Ostentava um cartaz onde se podia ler o seguinte: “As Mulheres Padres
estão aqui”. Foi detida pela polícia “por estar a usar vestes litúrgicas”.
Será que isto não é obrigatoriamente tema de debate
político, social, cultural? Como se justifica o silêncio dos principais
comentadores políticos? Recorde-se que o Vaticano é um Estado e que o Conclave
elege o chefe desse mesmo Estado (designado por Papa ou sumo Pontífice), de aí
resultando depois a formação do Governo do Estado do Vaticano (a Cúria).
Os motivos da minha perplexidade indignada não ficam por
aqui. Há mais.
A católica Janice Sevre-Duszynska, cidadã americana, foi
excomungada pela Igreja por se intitular “mulher padre”, depois de ter sido ordenada
à revelia das autoridades eclesiásticas de Roma e contra a vontade expressa
dessas autoridades. Repito: excomungada. Ao que se entende, o seu grave pecado
consistiu em ser tão católica que desejou, e deseja ardentemente, dedicar a sua
vida à obra religiosa, como qualquer vulgar padre católico. O problema está no
sexo. É que para o fazer tinha que ter nascido homem. Teve o azar de nascer
mulher, e um ser do sexo feminino, aos olhos da hierarquia da Igreja, da Igreja
Católica, não pode ser católico a esse ponto. Portanto, Janice pecou, incorreu
em gravíssimo crime, tão grave que foi, repito, excomungada. Foi amaldiçoada
pelos seguidores de Cristo que governam o Vaticano, incluindo aquele que se
afirma ser representante do deus católico no Planeta azul – precisamente o
mesmo deus adorado pela religiosa americana.
Será que isto não é motivo de debate? Será que não deve
convocar necessariamente a atenção de todo e qualquer comentador que se preze? Poderão,
em pleno século XXI, os comentadores políticos e os fazedores de opinião da
nossa praça ficar em silêncio, indiferentes a este acontecer? Com que
fundamentada justificação?
Já que se fala de excomunhão seja-me permitido o atrevimento
de aproveitar a circunstância para deixar aqui um singelo pedido público.
Há muitos anos que procuro a lista de nomes dos responsáveis
por Auschwitz e pelo Holocausto que tenham sido excomungados pela Igreja
Católica. Será que algum dos meus estimados leitores católicos, ou algum dos populares
comentadores católicos, faz o favor de me fazer chegar essa informação? Desde
já me apresso a agradecer toda a atenção prestada a este meu simples pedido, espero
que não demasiado atrevido.
Claro está que a lista solicitada não serve de justificativo
para a maldição lançada sobre a católica americana, mas, como espero que
compreendam, sempre alivia um pouquinho o agudo sofrimento que me causa a dor
da perplexidade indignada que me fere.
http://religionline.blogspot.pt/2009/10/quando-igreja-alema-excomungou-o.html
ResponderEliminarhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Mit_brennender_Sorge
http://www.youtube.com/watch?v=8SWpN6jg6UI
Il primo vuol essere, che i capi dell’Azione Cattolica erano quasi completamente membri oppure capi del partito popolare, il quale è stato (dice) uno dei più forti avversari del fascismo.
ResponderEliminarPapa Pio XI
http://www.vatican.va/holy_father/pius_xi/encyclicals/documents/hf_p-xi_enc_19310629_non-abbiamo-bisogno_it.html
http://pt.wikipedia.org/wiki/Non_abbiamo_bisogno
Agradeço a informação ao leitor Anónimo. Li com interesse o texto de Antonio Gaspari. A confirmar-se a validade da fonte por ele referida mas não identificada (de acordo com os princípios metodológicos da investigação científica), é pena a hierarquia da Igreja Católica não ter mantido essa atitude a partir de 1933.
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