Pretendo tão só chamar a atenção para uma atitude
protagonizada por uma deputada que, a meu ver, é exemplificativa do estado de
saúde moral da sociedade em que vivemos. É o assumir de consciência relativamente
a esse estado o que aqui verdadeiramente importa, no pressuposto de que esse
assumir de consciência é passo necessário, se bem que não suficiente, para se
encetar uma acção transformadora no sentido da superação de defeitos comprometedores
da saúde do corpo social, da qualidade de vida colectiva.
A deputada Glória Araújo, que integra a Comissão de Ética da
assembleia da República, encontrava-se alcoolizada ao volante de um automóvel
no dia do seu aniversário, como foi testemunhado pelas autoridades policiais
que a autuaram. O facto foi noticiado em toda a comunicação social. Decorrido
que está já algum tempo, não consta que a Senhora tenha sido admoestada pelo
Parlamento ou pelo Partido, e muito menos que se tenha demitido ou posto o seu
lugar à disposição dos responsáveis do seu Partido. Conhecedor destes factos, e
usando da sua legítima liberdade, um cidadão resolveu deixar um comentário na
página da deputada no Facebook, dizendo que no seu entendimento «havia um preço
a pagar para quem, como a deputada, representa o povo português». Segundo o
Diário de Notícias (edição de ontem), a deputada respondeu ao cidadão nos
seguintes termos:
«Também devia haver um preço para a estupidez e a cretinice.
Parece-me é que não consegues pagá-lo. Vai moralizar a tua avó, cretino.”
Assim falou a representante do povo para o membro do povo no
uso da sua liberdade de criticar.
Faço minhas as palavras do jornalista do DN que passo a
citar e que encerram a notícia: «ontem, a deputada não fazia anos. E à hora em
causa, não teria estado em nenhum bar anteriormente. A resposta é, por tudo
isso, ainda mais reveladora».
Será que vai haver alguma reacção oficial do Partido a que a
Srª Glória Araújo pertence? Irá a Presidente da AR assumir alguma posição em
face deste comportamento? Já passaram dois dias e, até agora, só consegui
colher silêncio.
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