SOBRE A ÓPERA
“TMIE”
de
Carlos Alberto
Augusto
Sendo o fenómeno ópera uma
reunião de todas as Artes, é, a meu ver, sob a égide de uma única delas, a dos
sons, que esse encontro se estrutura. Mas no imediato TMIE parece querer
recusar ou até negar esse primado. TMIE funciona como catalisador pedagógico,
despertando curiosidade/interesse no espectador receptor e levando-o à
exploração cognitiva de domínios extramusicais: o da medicina, o da fisiologia,
o da astronomia, o da história da ciência, o da filosofia. Nesse gesto de
condução, a arte dos sons parece ir sendo secundarizada. No entanto, a sonância
nunca deixa de estar presente, sendo uma espécie de personagem ubíqua,
ressurgindo continuamente, ora como sonoridade fisiológica (o gene, a
recuperação da faculdade auditiva de Beverly Biderman e o seu particular
ouvir), ora como enunciação da harmonia interestelar (nas observações
científicas de Henrietta Leavitt), ou ainda como expressão canora do ideário do
filósofo pré-socrático (mas também fisiologista) Empédocles sobre o sentido da
audição. Uma récita de TMIE convida à pesquisa. É assim, na sua genuína
dimensão artística, um singular instrumento pedagógico.
João Maria de Freitas-Branco
Lisboa, 24 de Outubro de 2016
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