Artigo de opinião inserido na edição da passada quinta-feira, dia 26 de Maio, do jornal PÚBLICO. Por imperativo editorial o texto públicado no jornal sofreu alguns cortes. O que agora aqui se dá a conhecer é a versão original e integral desse artigo de opinião que o autor foi convidado a escrever.
Do esgotamento à regeneração
A Pátria que nos é presente entristece pela ausência de nobreza, pelo empobrecimento material e espiritual – sendo este causa daquele. Mais do que a bancarrota, o que me indispõe é a banalização da imoralidade, o deficit ético-moral gerador de injustiça. O “representante” é por muitos visto como inimigo. Inundado de indecências o cidadão naufraga num pântano de desânimo, sendo o seu estado de alma incompatível com o desenvolvimento. Falta bondade e nobreza na política real. A sã República precisa de nobres políticos; esses que se esforçam para se tornarem dispensáveis, sendo exemplo de servidão. Pois, como dizia o lúcido Ortega y Gasset, o nobre é aquele que vive em essencial servidão.
Não deposito esperança no acto eleitoral que se avizinha. Está contaminado de incultura, ignorância, estupidez, propaganda, ilusionismo, falsas evidências. Sabendo ir provocar exaltada indignação nos sacerdotes da normalidade democrática, ouso declarar que não me sinto obrigado a respeitar o resultado eleitoral. Bem pelo contrário: sinto obrigação intelectual de não o respeitar. Porquê? Porque a ignorância, a mentira, a manipulação, a demagogia, a estupidez não devem ser respeitadas e o resultado das eleições vai ser natural efeito de tudo isso. Tal como são realizadas, as eleições são instrumento denegatório da democracia. Se esta é a consagração do poder da maioria, o que se tem visto é o oposto: nos últimos anos, o PS governou com o apoio de 22% dos eleitores inscritos e o não apoio de quase 80%. Desavergonhadamente chama-se “vitória democrática” a esse voto minoritário. A democracia real, esta que temos, deveio democracia contra os cidadãos em que o representante, como o Poeta, é um fingidor e a participação uma quase ilusão. Alguém ainda pode acreditar que eleições deste tipo traduzem a efectiva vontade popular? Que são instrumento consignador da soberania do Povo?
A segunda Republica (que para alguns é a terceira) está esgotada. A inconstitucionalidade do programa da troika também o mostra, se bem que ninguém refira essa gritante ilegalidade violentadora do espírito que presidiu à edificação do regime derivado da Revolução dos Cravos. Na singularidade do momento, saber se a vara do mando vai parar a mãos de direita ou de esquerda é questão menor, pois importa mais cuidar se fica em mãos de cima ou de baixo. Parece que tem andado na mão de gente de baixo, incluindo deficientes morais, com resultados à vista.
Se impedirmos o regresso da barbárie, a nova República será obra de nobres sabedores de que o ambicionado enriquecimento/crescimento da Pátria se estriba na justiça social e não na indigência do cidadão laborioso, tendo como referência maior as pessoas.
domingo, 29 de maio de 2011
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